
Othello History
Vamos lá, o Othello foi inventado por Goro Hasegawa no Japão, logo após o final
da guerra em um mundo devastado pelos horrores que somente uma guerra pode
causar, diz que o mesmo criou o jogo usando de início tampinhas de garrafas de leite
como peças, numa placa de jogo qualquer. O jogo lembrava um pouco o famoso jogo
de tabuleiro chinês: “GO”, por usar padrões pretos e brancos de cores de peças,
diz-se que o jogo foi um sucesso entre seus colegas de classe. Após anos e
anos, quando estava trabalhando em uma empresa, ele relembrou do jogo que havia
criado, refez o mesmo protótipo com peças de tampinhas de garrafas de leite e
apresentou a uma fábrica de brinquedos, no caso a Tsukuda Original e, a mesma
vingou! E em 29 de abril de 1973 foi batizado esse novo jogo com o nome de “Othello©”,
ideia essa de seu pai, o senhor Shiro Hasegawa, que era um especialista em
literatura inglesa, e achou similaridade entre a dinâmica e cores do jogo com o
que acontecia na trama escrita pelo autor William Shakespeare, intitulada:
“Otelo, o Mouro de Veneza”, detalhes como as cores preto e branco do jogo
(General Otelo que era negro, e Desdemona sua esposa branca) as intrigas e
reviravoltas entre os personagens, junto ao fundo verde do tabuleiro que mais
se parecia com os campos verdes ingleses onde a trama decorria, fizeram jus ao
nome do jogo. Teve grande impacto no Japão e, em 1977 foi lançado nos Estados
Unidos pela Gabriel Industries, sob licença da Anjar.co do norte-americano Jim
Becker e, teve incríveis 1 milhão de cópias vendidas apenas nesse ano! Em 1977
também tivemos o primeiro Campeonato Mundial de Othello, que teve cinco nações
diferentes nessa primeira edição que consagrou o jogador japonês Hiroshi Inoue,
como o primeiro campeão mundial de Othello da história, ao derrotar o norueguês
Thomas Heiberg na final. Tivemos alguns campeonatos nacionais no decorrer dos
anos, mais exatamente durante a década de 1980, Japão, Suécia e Itália por
exemplo, despontavam nesse quesito. E para completar, sabemos que as
competições em inúmeros países estão ai até hoje, principalmente os famosos e
esperados Campeonatos Mundiais de Othello que se realizam uma vez a cada ano. Tivemos
a criação da Federação Mundial de Othello em 2005 e, de mais um monte de outras
federações e associações nacionais ao redor do mundo. Pois bem, essa parte da
história talvez você já saiba, mas e a outra? Essa história começa em 1876 em
Londres na Inglaterra, que foi o ano em quem John W. Mollett, através de uma
empresa de brinquedos comercializou o jogo “Annexation”, jogo esse com a mesma
dinâmica do nosso “Othello” porém, com um tabuleiro em formato de cruz. Anos
depois Lewis Waterman, mais exatamente em 1883, também na mesma Londres, através
da empresa Jacques & Son, comercializou um jogo muito similar ao de
Mollett, com o nome “Reversi”, porém com um diferencial; esse tinha um
tabuleiro igual aos de xadrez, 8x8 com 64 casas. A confusão estava armada!
Começava ai uma guerra armamentista entre ambas as empresas e inventores, que
motivou Mollett a recriar o seu jogo, agora com o mesmo tabuleiro 8x8 de
Waterman mas o intitulando de “Annex – A game of reverses”, isso gerou processo
de Waterman que acusou Mollett de plágio, depois de perder de início, Mollett
ganhou na apelação, por dizer que o nome “reverses” diz respeito à natureza do
jogo, e em nada ao nome do jogo de seu concorrente “Reversi”. A coisa toda foi
longe e nunca entraram num consenso, teve até criação de livros com pseudônimos
e, semi-plágio de títulos entre os livros, acreditem ou não. Pois bem, vamos pular
toda essa confusão e vir até a era moderna de Hasegawa, e tentar responder o
que de fato muda do jogo dos londrinos em relação a invenção de Hasegawa. No jogo
de Waterman e Mollett, mesmo que eu reconheça que o jogo de Waterman acabou
ficando mais famoso do que o jogo do seu compatriota, ao menos no quesito da
ideia original por ter usado o tabuleiro 8x8 e não o em formato de cruz. Temos
algumas diferenças conceituais com o Othello de Hasegawa e, já deixo aqui
registrado que as evidências apontam que foi justamente Waterman quem
possivelmente copiou primeiro a ideia de Mollett, e não o contrário. As
diferenças entre o Reversi de Waterman e Mollett com o Othello de Hasegawa são:
1 - As peças no Reversi londrino são colocadas avulsas do início ao fim do
jogo, não há peças centrais em diagonais pré-definidas como há no Othello de
Hasegawa, o que de fato, como bem observado por entusiastas do jogo Othello,
poderia criar diagramas paralelos de cores, o que estrategicamente defasaria o leque
de possibilidades táticas e estratégicas em relação ao jogo Othello.
2 – Ao passar a vez no Reversi londrino, o jogo simplesmente acabava, coisa da
qual não acontece no jogo de Hasegawa. De fato isso é um limitador, pois uma
das estratégias mais lindas que há no Othello, se chama “Paridade” que tem
maior clareza e predominância em um jogo onde haja continuação após o passe,
coisa da qual no Reversi londrino é limitada, mesmo que o conceito de paridade
em si, ainda possa existir.
3 - A terceira característica que
diferencia o jogo Othello do Reversi londrino é mais estética do que
processual, que seriam as cores entre os tabuleiros, no Othello como dito
acima, as peças são pretas e brancas em um tabuleiro verde, já o Reversi de
Waterman, as peças são pretas e vermelhas em um tabuleiro bege, essa diferença
pode ser menos impactual, desde que você sempre saiba que: “Não há jogo Othello
oficial com outras cores, que não sejam as cores já descritas acima, a não ser
em lançamentos pontuais com a cor de tabuleiro azul, por exemplo”, com isso,
não haverá problema. Em compensação, a lista de “Reversis”, que de nada tem a
ver com o Reversi londrino (Já chego lá) extrapola o leque de cores possíveis
para peças e tabuleiros.
Bom, tirando essas diferenças, o Reversi londrino de Waterman, é quase
exatamente o mesmo jogo do Othello de Hasegawa, o que fez quase 100% da
comunidade de jogadores de Othello ao redor do mundo pensar sim, na
possibilidade de Hasegawa ter tomado como base para a criação do seu jogo, o Reversi
londrino, uma vez que o próprio pai de Hasegawa, o Sr. Shiro Hasegawa, era um
especialista em literatura inglesa, ao que parece, pode ter tido conhecimento
de jogos de tabuleiros tradicionais da terra da Rainha, por que não? Ou até
mesmo, quem sabe, alguma das inúmeras versões de “Reversis” espalhadas pelo mundo.
Poderia Hasegawa ter criado esse jogo sozinho e de forma espontânea sem nunca
antes ter tido algum conhecimento do Reversi londrino? Sim, claro. É um jogo
relativamente simples, com regras e estruturas simples. Mas o nível de
semelhanças entre os jogos e todas as “pistas inglesas” em sua composição, nos
induz a conjecturas diferentes ao que é dito oficialmente. Nunca saberemos com
toda a certeza se essa história é real, uma vez que nada disso foi declarado oficialmente
por Hasegawa ou órgãos como a Associação Japonesa de Othello, a empresa Tsukuda
Original, tão pouco a poderosa Mega House, que é quem detém hoje em dia todos
os direitos autorais de distribuição do jogo através do mundo. O fato é, que
não há provas conclusivas de ambos os lados para afirmações contundentes, mas
há uma tendência em alguns grupos ou sites oficiais, em apoiar unicamente a
ideia de criação japonesa do jogo, ignorando totalmente a ideia de origem
londrina. Ao que sabemos, essa história que trata da origem londrina, é sim a
mais plausível de todas já contada sobre a real origem do jogo Othello. Hoje em
dia inúmeros programadores criam seus apps e programas de “Reversi” para
computadores ou celulares com as mesmas regras do jogo Othello (que sim foram
criadas por Hasegawa) e, batizam esses apps e programas com o nome genérico
“Reversi”, que inclusive de nada tem a
ver com o Reversi londrino em suas regras. A meu ver, caso acreditasse firmemente que o
atual jogo Othello não tivesse de fato nada a ver com o Reversi londrino, eu
chamaria isso de injustiça ou plágio, mas como tudo indica o contrário disso,
acho até bastante compreensiva essa apropriação da marca, acredito que a
excelente tomada de mercado que Hasegawa
e seu pai tiveram para relançarem o jogo Reversi com uma nova roupagem, acaba
por ser a mesma desses inúmeros programadores que hoje se apropriam dessas
mesmas novas regras do Othello, para implementarem em seus softwares. Ao que tudo indica, a ideia do Reversi
londrino ser o ancestral do Othello, está no inconsciente coletivo de milhares
de pessoas, que sobre nenhuma forma conseguem desassociar um jogo do outro. Pessoalmente
eu tenho um certo respeito pelo Sr. Goro Hasegawa, pois sem ele é bem provável
que o antigo jogo Reversi não teria tido êxito tantos anos depois de
desaparecer. De certa forma, essa nova remodelagem que teve nas mãos de
Hasegawa e, sem todo o trabalho e esforço do Sr. Hasegawa junto ao Sr. Jim
Becker da Anjar.co, eu não teria conhecido esse jogo e tido um hobby tão
maravilhoso quanto esse que é poder jogar Othello/Reversi e, fico feliz por
isso, a isso não deixarei de ser grato. Como também não posso deixar de ser
grato aos dois grandes londrinos, Mollett e Waterman, por nos deixarem essa
herança tão linda, que serviria de base ao nosso atual Othello.
Finalizando, digo que o nosso queridíssimo Othello teve um ancestral inglês,
com uma história confusa, mas no final bonita, de criação e continuação de uma
tradição que por muitos anos, entreterá muitas pessoas ao redor do mundo.
Obrigado
Fontes:
Pressrelese - World Othello Championship 2017 (Download do Comunicado de Imprensa)
https://woc2017.worldothello.org/live-media/pressrelease
El Reversista - Historia del Reversi
https://sites.google.com/site/elreversista/historia
Fédération Français d'Othello - Une Historie de 135 Ans (Comparação Entre os Tabuleiros)
http://www.ffothello.org/othello/histoire/
Anjar co. - Othello® - A Minute to Learn, A Lifitime to Master®
http://www.anjar.com/othello.htm