quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Othello – Qual o futuro do país no foco de grandes talentos na modalidade?



Othello – Qual o futuro do país no foco de grandes talentos na modalidade?

Vamos lá, fiquei meio relutante em fazer essa postagem por se tratar de um assunto delicado, mas penso que seria bom para os jogadores navegantes e curiosos que chegam a esse blog periodicamente, saber um pouco da opinião de alguém que joga Reversi desde 2004 e, que frequenta sites de jogos desde 2006. Embora isso seja apenas uma opinião, talvez possa servir de diretriz para algum divulgador vindouro que queira um patamar, uma base de por onde começar, o que acrescentar e o que evitar. Para ser bem sincero não ambiciono nada sobre o assunto, mas se tem alguém que observa esses padrões além de mim, com toda a modéstia, desconheço; ao menos no que tange esse jogo.

Como já disse em postagens antigas minhas, esse jogo bem provavelmente chegou por aqui nos anos de 1970 e em 1980 de maneira massiva, com empresas ligadas à venda de tabuleiros e consoles de videogame, dentre as empresas de jogos e brinquedos temos a Grow, Glasslite (sei que não falei da Glasslite em minhas postagens), e empresas de jogos como Atari, Nintendo e Sega. Nos anos 2000 tivemos o advento de sites de jogos como o Vog, PlayOk (que nessa época se chamava Kurnik) Flyordie, International-Othello, Reversi Para Internet do Windows XP, dentre outros, que reuniam muitos jogadores brasileiros, com predominância nos três primeiros citados. Muito provavelmente foi nessa época que muitos brasileiros tiveram o seu primeiro contato com o jogo para que posteriormente com o surgimento de federações e associações ao redor do mundo, e da própria World Othello Federation em 2005, fundarem uma federação aqui no Brasil em 2006. Isso no entanto foi apenas um meio oficial e, diga-se de passagem muito bom, de divulgação por meios não oficiais, com a ajuda de plataformas como o Orkut e de mecanismos de bate-papo como o MSN ser possível levar conhecimento do jogo à muita gente. Em seu auge a comunidade Othello/Reversi tinha em torno de 370 membros, dos quais, aos menos alguma vez que seja, tenham participado da comunidade lendo algo a respeito dos campeonatos e da federação. No MSN era possível adicionar jogadores desse nicho, ou em sites onde havia uma miríade de brasileiros e, por que não, convidar algum amigo ou amiga que nunca tiveram contato com o jogo antes para umas partidinhas no Reversi do MSN?

Bem, hoje as opções de lugares para jogar aumentaram exponencialmente, com um smartphone nas mãos você pode ter acesso não só às versões de app de alguns desses sites já citados acima, com ênfase ao PlayOk e Flyordie, já que o Vog está extinto e o Windows XP só para os nostálgicos e técnicos conservadores, pode ainda desfrutar do que há de mais moderno nas novas plataformas como o Othello Quest, eOthello, Dr. Reversi ou até o Othello da LITE Games e o Online Reversi da Bluesky Studio pela Microsoft. Temos ainda o Reversi para Facebook, e muito provavelmente inúmeros apps online e offline por ai, temos apps offlines excelentes para treino e aprimoramento, como o Reversatile de Stefan Murawski (antigo DroidZebra de Alex Kompra) e o The Othello da UNBALANCE Corporation que deixam tudo mais fácil para quem quer aprender a jogar de verdade.

Mas por que eu estou fornecendo todos esses dados?

Primeiro pelo fato de que defendo a ideia de que os melhores jogadores de Othello, jogado em tabuleiro, surgiram antes como jogadores de Reversi, jogando durante horas online, tal como os que se sobressaem são os que analisam suas próprias partidas consertando pequenas e grandes falhas no seu próprio jogo, bem como os que analisam jogos de jogadores mais fortes e eventualmente jogam com estes. Pode acontecer de algum jogador não ter nenhum contato online com o jogo ou com aplicativos de aprimoramento e se tornar um bom jogador de Othello? Pode, claro... Da mesma maneira que existe uma boa possibilidade de você atravessar uma rua movimentada de carros com os olhos fechados sem ser atropelado, pode acontecer, mas dependerá mais dos outros do que de você mesmo. Uma vez que para descobrir e melhorar seu nível no jogo dependerá de enfrentar jogadores fortes, e com isso descobrir “de olhos vendados” utilizando apenas de intuição onde possa estar errando, os apps de aprimoramento seria seus olhos nessa analogia e o jogador forte o carro com um motorista atento e bondoso que não te atropelasse e te ajudasse de alguma forma, algo meio difícil. O problema é que jogadores fortes jogando campeonatos aqui no Brasil são algo raríssimo, pode-se contar nos dedos quantos periodicamente vão à competições e menos ainda quantos têm vocação, paciência e didática suficiente para lhe ensinar algo além do básico. Então o melhor método para esse enclave é você mesmo se ensinar e, para isso é extremamente necessário jogar online e aprimorar suas habilidades com algum app específico para isso, ou com programas como o WZebra e NTest para computadores e notebook.

Muito bem, isso tem sido feito?

Não, infelizmente primeiramente boa parte dos jogadores, desde lá em 2006 na comunidade Othello/Reversi (acho que a comunidade é mais antiga, mas não tenho certeza) até os últimos adeptos nos últimos cinco anos abandonaram o jogo, dos mais antigos talvez participasse da comunidade somente pra retratar um jogo que gostava, os que jogavam online simplesmente enjoaram do jogo. Dos jogadores mais recentes muitos sempre foram enxadristas e damistas, pouquíssimos continuaram jogando, mas mais por hobby e interação social do que por ambicionar melhorias táticas no jogo, o que me leva a deduzir que se por meios online a coisa está tão carente de habilidade técnica, e em campeonatos reais o nível técnico está estagnado há anos, o que se pode fazer para que existam mais jogadores fortes nas competições oficiais? Chamar jogadores que jogam há muito tempo online não é a solução, pois jogar há muito tempo não é sinônimo de nível técnico avançado, então não são todos que atingiram esse nível e como eu disse o nível de muitos desses jogadores está baixo há anos, etão no nível intermediário ou abaixo há anos, sem progresso; (o foco é em jogadores com potencial de crescimento no jogo, então estes não são exatamente o público alvo) além de estarem localizados em lugares distantes no Brasil entre si e para as competições aqui na cidade e interior de São Paulo. No máximo se por ventura estes viajassem quilômetros para vir até algum lugar do estado de São Paulo participar de algum campeonato, o que poderiam fornecer seriam partidas com erros que bons jogadores nunca ou raramente cometem. Me refiro especificamente à sites como Flyordie e PlayOk, a nova geração tem mais afinco com o Othello Quest.

Existem inúmeras maneiras de se aprimorar e onde jogar, foi justamente por isso que eu enchi a tela com nomes de sites e aplicativos, além de orientar onde achar online os jogadores brasileiros, mas atualmente posso calcular apenas uns doze jogadores que bem treinados, têm um nível avançado, sendo que cinco com nível bom (o que já os colocam com nível melhor do que mais de 92% dos jogadores que já pisaram em alguma competição oficial no Brasil algum dia, e esse cálculo não é exatamente preciso, ok?) mais 5 com um nível muito bom e, destes os dois que sobram com um nível acima da média geral. E esse grupo, ou qualquer um que por ventura venha a se encaixar dentro dele, é um público alvo. Ou seja, de jogadores com força e habilidade no jogo similar ao que vemos em competições em vários países da Europa, Ásia e Estados Unidos. Deixo já um adendo aqui, que reforçarei mais à frente: Isso não se trata de elitismo técnico, desejo que todos os jogadores sejam bem-vindos dentro das competições oficiais, independentemente se jogam bem ou não, isso no geral pode ser considerado irrelevante. Mas ter uma equipe de jogadores excepcionais no país, em meio há muitos jogadores que estejam ainda aprendendo, seria uma má ideia? Todo esporte tem os seus craques, e isso acaba servindo de estímulo para quem está começando agora em uma modalidade, ter essas boas referências técnicas, além dos inúmeros exemplos de lição de vida e superação que cada um pode fornecer independente do nível técnico no jogo em que se encontre. Ou seja, isso não é "elitismo" e sim um foco em agregar nas competições oficiais "uma elite técnica de jogadores" que de forma alguma sirva de barramento à quaisquer jogadores, estejam no nível técnico que estejam. E também reforço o fato de que é extremamente importante a continuidade das competições em tabuleiro, que de maneira natural pode cedo ou tarde nos brindar com grandes talentos do esporte.Voltando...

E a notícia não muito boa é que desses doze jogadores, apenas uns quatro podem por questões de localidade, tempo e vontade participar dessas competições. Nem sempre todos, nem sempre algum, ponto.

Então como fazer para que venham a essas competições?

Disponibilizando gratificações, brindes e prêmios financeiros, mas... Isso é impraticável aqui no Brasil, uma vez que não existe um reconhecimento do jogo Othello sendo pertencente aos Esportes da Mente, mesmo que de maneira indireta esteja associado. Para pertencer á alguma categoria oficial esse jogo deve ser praticado no mínimo em 100 cidades diferentes, que é uma tarefa um tanto árdua para um jogo tão pouco popular no Brasil. Houve cortes nas verbas destinadas ao ministério do esporte e da educação, o que afetou tudo como um todo também.

De alguma forma, sabe-se lá como, implementar nas escolas o jogo Othello em meio à aulas de Xadrez e Damas, mas como se nem ao menos está sendo possível ensinar os jogos mais famosos nas escolas? É arriscado e contraproducente remar contra a maré. Em 2015 tivemos a última grande revolução do jogo aqui no país, que infelizmente foi minguando até se desbotar quase totalmente em 2020. Então em meio a tudo isso, haveria algum método prático e barato de buscar, criar, estimular e lapidar futuros grandes jogadores no país?

Percebo que por meios online divulgar o jogo, seja com canal no Youtube, páginas no Facebook, blogs e etc. Esse é o único meio barato e sem muitos obstáculos de fazer divulgação do jogo. Talvez pequenas participações em canais maiores possa ajudar, tanto quanto estreitar a relação do jogador em tabuleiro com os jogadores em smartphone, salão de eventos desde que bem divulgados antes online, seria bom também. Contratar algum programador pra desenvolver um site brazuca de jogos online, com ênfase nos brasileiros, talvez com divisões por níveis, com pequenos tutoriais de como jogar, como treinar, onde jogar campeonatos oficiais online e offline (em tabuleiros). A minha ideia que nem minha é, e tão pouco é inédita. Na época do Orkut como citado acima, isso já existia, com exceção de um site específico para brasileiros, muitos membros se encontravam online no Vog, PlayOk ou Flyordie e, alguns iam à competições oficiais em tabuleiros, e nessa época o nível das competições eram bem alto, pois os jogadores que iam jogar no tabuleiro, já estavam bem treinados jogando online. Claro que por falta de recompensas específicas, distância dentre outros motivos como já disse, boa parte não se deslocariam à tais competições, mas alguns poderiam ir por puro hobby e curiosidade e acabariam pegando gosto pela coisa. Por algum motivo isso se perdeu hoje em dia. Claro que tivemos por exemplo os campeonatos brasileiros de 2018 e de 2019, que tiveram a participação de bons jogadores, no primeiro com bastante participantes iniciantes e quatro jogadores avançados, no de 2019 tivemos somente quatorze jogadores no geral, sendo quatro avançados e um intermediário, foram campeonatos equilibrados. Em 2018 tivemos a presença de um fortíssimo jogador online que eu ajudei a resgatar às competições oficiais um ano antes e, em 2019 dois fortes jogadores online que eu convenci a irem. Hoje em dia, infelizmente não há nenhuma plataforma ou comunidade com foco nos jogadores brasileiros online, se focando apenas em pequenas aparições e divulgações, e restrito a contingente “importado” de jogadores de outras modalidades, que nem sempre ficam muito tempo na nossa modalidade. Mas como disse, não basta apenas jogadores online em campeonatos oficiais mas com nível baixo, seria interessante ao menos alguns com bom desenvolvimento e progresso contínuo, claro que gosto que estejam todos lá e amem isso por hobby, não por pura ambição, claro que gosto do espírito esportivo, claro que ninguém tem a obrigação de jogar bem, mas um pouco de objetivo concreto em ter jogadores com excelência não seria errado, entendam por favor.Recentemente alguns têm percebido à importância do mundo online na divulgação, e da importância de linkar esses jogadores ao mundo real, mas ainda há muito trabalho a fazer, só nos resta torcer e esperar. Se houver progresso, dentro de menos de uma década teremos um contingente definitivamente de bons jogadores no país que participe de competições oficiais, sem nada dever em qualidade aos campeonatos europeus, asiáticos e dos Estados Unidos, servindo de exemplo a outros que queiram trilhar o mesmo caminho.

Resumindo, seria:

1 – Criar uma plataforma focada em todos os nichos do jogo, como sites e aplicativos,  (olhem a lista de sites e apps que escrevi logo acima nessa postagem) bem como blogs e canais no Youtube, comunidades no Facebook e Whatsapp. Para que dessa forma, com o tempo, jogadores desses locais começassem a conhecer que há um trabalho por detrás daquele hobby, e se interessem a ir com mais frequência em locais de eventos, como os campeonatos em escolas, clubes, shoppings e restaurantes especializados. Uma maneira poderia ser a criação de um site exclusivo para os jogadores brasileiros, onde os mesmos pudessem interagir, aprender e ensinar aos demais jogadores. Essa é uma forma de agregar mais jogadores com grande potencial dentro dos campeonatos em tabuleiro e, orientá-los a conhecer outras plataformas online do jogo, que permitirá que o mesmo tenha contato com mais jogadores, aprimore seu conhecimento e de quebra ajude a divulgar ainda mais a modalidade.  Para essa função precisaremos de um divulgador bem específico que meio que “pegue os jogadores pelas mãos” e conduza-os pelos possíveis lugares nesse mundo.

2 – Oferecer recompensas interessantes e chamativas para os participantes, que vá além de troféus e medalhas. Brindes como sorteios de jogos de tabuleiro, camisetas promocionais, ingressos para algum show específico, ou até mesmo um tabuleiro de Othello ou de Xadrez para o campeão, sempre dentro dos limites. Não ter apoio do governo ou de alguma iniciativa privada nesse momento é algo ruim, eu reconheço; porém às vezes é necessário pequenos sacrifícios quando se quer alcançar um meio, mesmo que tenha que tirar, dentro do possível, do próprio bolso para isso. Eu já tirei, e sei de outros que fizeram igual.

3 – Continuar dialogando com os governos e entidades oficiais ligadas aos esportes da mente para que revejam possibilidades mais justas de verbas à modalidade, mostrando que o esporte está crescendo no país, e que tem grande potencial de conquistas em torneios internacionais (a essa altura poderemos já ter um bom número de bons jogadores jogando competições oficiais de Othello), algum afrouxamento na medida já seria suficiente para que ao poucos o jogo possa voltar a ser ensinado nas escolas. Onde os iniciantes serão incentivados a freqüentarem as plataformas online para que desenvolvam suas habilidades, é uma engrenagem retroalimentar, uma coisa alimenta a outra.

Bom, é isso. Utopia? Delírio? Eu não sei, apenas acredito que essa seja uma das poucas formas racionais de formarmos jogadores brasileiros de Othello com excelência.

Obrigado

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