quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Atual cenário e ideias futuras para o Reversi no Brasil





Olá a todos!

Pois bem, eu não pensava em voltar a escrever nesse blog tão cedo, mesmo já tendo se passado quase dois anos desde a minha última postagem séria, que foi quando eu falei sobre a morte prematura de Michael Handel, eu sinceramente achava que todos os meus assuntos já haviam esgotado, ou os poucos pendentes já não valiam mais a pena serem  abordados, mas agora meio que por um lampejo por desejo de expressão somada a uma tal necessidade de ação, aqui estou eu mais uma vez para encher o saco de vocês e no meio dessa lambança toda lapidar algo que nós todos de alguma forma possamos usufruir. Como bem vocês sabem e, se não sabem ficarão sabendo agora, uma vez por ano nesses últimos anos foram realizados campeonatos oficiais de Othello, que é o encontro  entre uma turma (nerd)e/ou curiosa para jogar o tão famigerado jogo dos anos ’70, o Othello, para os menos íntimos Reversi, é isso ai! Aquele mesmo que jogávamos no finado Windows XP, e que ainda uma certa galera joga no Flyordie ou no Playok. Até ai tudo bem, no ano de 2004 quando ainda não tinha nenhuma oficialidade, fizeram o primeiro encontro, e foi um sucesso! Teve até prêmio de viagem para a Inglaterra dada ao campeão daquele ano, e sonhos de futuros ainda melhore por vir, e então depois de uma pausa, amigos criam a Federação Brasileira de Othello em 2006, e no ano seguinte realizam o que viria a ser o primeiro campeonato brasileiro de Othello oficial, e foi outro sucesso. Depois até o ano de 2013 tiveram alguns campeonatos entre altos e baixos, alguns com um número razoável de participantes, outros com menos, mas era uma oscilação compreensível pela falta de tempo integral dos colaboradores com o projeto, porém nos últimos dois anos a coisa caiu, e caiu muito, não só os campeonatos em si, mas toda a estrutura da Federação Brasileira começou a amolecer.

Othello Copyright

É sabido de todos que o jogo Reversi foi inventado na Inglaterra no ano aproximadamente de 1880, e que de lá para cá tivemos um grande hiato em âmbito comercial do jogo, porém na década de ’70, surge Goro Hasegawa que relança, muda algumas regras e patenteia o jogo e lhe da o título da obra de Shaskepeare de mesmo nome, Othello... só que agora com um “©” na frente. Não podemos esquecer da grande ajuda de Jonathan Becker (Anjar.co), o americano que ajudou Hasegawa na divulgação, licenciamento e vendas do jogo nos EUA e em todo o mundo, até mesmo o slogan do jogo: “A minute to learn... a lifetime to master” foi de autoria dele. E o negócio estava indo que era uma maravilha, até que em 2004 a Grow aqui no Brasil, resolveu lançar o jogo, sendo portanto a dona da licença de produção do jogo em terras tupiniquins, e se vocês se lembram bem do que escrevi acima,“coincidiu” com o primeiro campeonato em nosso país (do que se tem notícia), óbvio que a Grow teve uma grande ideia, para fazer um marketing dinâmico nada melhor do que eles próprios criarem um campeonato com premiação para o campeonato mundial daquele ano, que viria a ser em Londres na Inglaterra, todos se esforçaram na divulgação, eu pessoalmente sempre terei um certo carinho pela Grow por causa disso, mas sabe como que é né... brasileiro é f... Se a Grow tivesse lançado uma bola de futebol, um jogo de futebol para videogame, ou uma marca de cerveja talvez o negócio tivesse dado certo por aqui, mas como foi um jogo de estratégia abstrata que requer mais neurônios que um par de mãos some, já em 2006 a Grow anunciou o fim da comercialização do jogo no Brasil... E é ai nesse ponto que temos um grande problema amigo leitor, o jogo “acabou” por aqui, mas no resto do mundo ta rodando, se bem o mal não vem ao caso, o fato é que muitas empresas em alguns países produzem o jogo ainda, e como não devia ser diferente, a marca continua forte no Japão com o que é agora a sua única dona, MegaHouse, que organiza os campeonatos mundiais e tem poder sobre a marca em todo o mundo, ou seja, se você quiser organizar um campeonato de Othello, sempre que usar esse nome, estará usando e falando de uma marca deles. Agora pensem em realizar um campeonato brasileiro de Othello aqui no Brasil, como conseguiríamos patrocínio para uma marca morta em nosso país? Quem vai organizar e divulgar o campeonato de um jogo que não vende, não porque ninguém compra, mas sim porque ninguém produz? Eu tenho uma solução bem simples para isso, porém tenho outras mais complexas e mais ousadas.

Atitudes práticas

1 - Talvez uma solução mais simples para isso é pedir a compreensão para os organizadores a nível mundial, para que possamos usar o nome Reversi na divulgação de nossos campeonatos ao invés de Othello, na hora utilizaremos os tabuleiros da marca (se é que isso também importe algo) e lançaremos após como campeonato de Othello, óbvio que explicando antes a todos que Othello e Reversi se trata do mesmo jogo.

2 – Outra solução seria procurar alguém que produza o jogo em nosso país com o nome certo, ou seja, Reversi. E assim organizar e divulgar junto com essa empresa os campeonatos, mas nesse caso teríamos que esquecer qualquer oficialidade junto a MegaHouse, e WOF (World Othello Federation), então o foco seria a divulgação e patrocínio feita por uma empresa que nada tem a ver com a marca japonesa, então não seria classificatória para competições internacionais e nem rankiamento.

3 – Tentar convencer outras empresas, a relançarem o jogo no Brasil, quem sabe a Estrela que seja... Mas sabemos que se a Grow que tem como força e especialização os jogos de tabuleiros não conseguiu sustentar a marca, quem dirá a Estrela. Então que tal a Mattel ou a Hasbro, a primeira comercializa (ou ao menos comercializou) o jogo na Europa, quem sabe não tentam no Brasil também? Teria que comprar a licença da Grow ou da Megahouse? Eu não sei, apenas sei que motivos para não fazer isso preenchem 80% do lado de uma balança, mas caso queiramos sustentar um sonho (ou um delírio) podíamos pensar num abaixo assinado dizendo: “Volta Othello Brasil!” e torcer para que eles mordam a isca, porque convenhamos, Othello ta mais para isca do que para comida...

4 – Essa é a ideia que eu mais gosto, que tal contatar alguém que já mexe com isso? Digo, com eventos, campeonatos, com organizações e divulgação de campeonatos em geral... Alguém que tenha algum contrato com a prefeitura de sua cidade ou alguém que faça trabalhos voluntários em algum SESC da vida, uma pessoa que ganhe, ou que tenha tempo livre para fazer isso gratuitamente. E essas pessoas existem meu caro leitor e minha cara leitora. Nesse caso a idéia seria jogar a sementinha no terreno fértil para que depois viesse a germinar, e brotar e florir tudo a nossa volta. No começo seriam campeonatos com 6 a 10 pessoas, e olha que isso já é a nossa média nos últimos anos,  depois (e sabendo que é possível e permitido organizar até quatro campeonatos nacionais por ano de acordo com nas normas da WOF) teríamos campeonatos com 15 a 20 pessoas, depois com 30 e depois 40 pessoas! Já sonhou com isso? Isso é altamente possível dentro do cenário que eu imagino. Nessa a Grow poderia fazer empréstimos de tabuleiros para as competições, e nisso eles confiam na FBO (Federação Brasileira de Othello), tudo bem que essas competições seriam no Interior de São Paulo (ou em outros estados), mas depois de ter uma galera já “viciada” e conhecedora do jogo, teríamos automaticamente uma galera disposta, e a palavra é realmente essa, DISPOSTA a vir até a capital, mais especificamente na Ludus Luderia e participar do campeonato dentro de onde é mais tradicional. (Lembrando também que o Campeonato Brasileiro Oficial pode ser realizado em qualquer lugar do Brasil, não necessariamente somente em São Paulo.)

Certo, até agora discorri sobre a história do jogo, sobre o surgimento do copyright Othello, sobre a produção do jogo em grande escala em nosso país, e o surgimento da nossa federação. Bem como também falei da decadência do atual cenário e pormenorizei algumas ideias para extirpar essa total inércia em que estamos agora. No decorrer dos últimos três anos, que foi quando estive mais ativo mexendo os pauzinhos na federação, recebi alguns conselhos de amigos, e ideias  também, algumas sugestões foram ótimas porém notei que tinha um pouco de visão simplista e fora da realidade, e vejo que existem algumas ideias na mente dos jogadores que são um motivo real para que não aconteça o desprendimento entre o mundo virtual e o real quando se trata de jogar Reversi. E esse é um dos outros grandes motivos de não haver mais jogadores em nossos campeonatos.

Jogar por dinheiro

Reversi não é Xadrez, e portanto por mais que haja comparações em peculiaridades de ambos os públicos, dificilmente Reversi será tão popular quando o milenar Xadrez, não nessa encarnação se me permite a hipérbole, no mundo do Xadrez há séculos vêm acontecendo competições mundo à fora, chegou até mesmo na história mais recente ser peça exibidora e definidora na guerra fria entre Estados Unidos e União Soviética, onde os soviéticos associavam a supremacia de seu partido e política socialista apontando seus campeões mundiais como fator ímpar de potência intelectual, veja como exemplo Kasparov, Karpov... E Estados Unidos com o magnífico Bobby Fischer, e ao menos na era moderna houve competições com dinheiro envolvido no meio, e isso, ao menos de forma documentada, nunca ocorreu com o Reversi, e se falarmos com Othello, não seria necessária mais de uma mão para contabilizar, e ainda assim no Japão e não fora dele. Outro fator é que a FBO, assim como as inúmeras federações e associações ao redor do mundo, são organizações sem fins lucrativos, ou seja, não há “faça me rir” na jogada meu caro(a).  A maioria esmagadora das pessoas que podemos chamar de entusiastas desse jogo magnífico, o é por paixão ao esporte (quero chamar de esporte, ok?) e não porque quer ganhar um din-din no final do ano para somar ao décimo terceiro ou poder comprar a lata de leito ninho para o filhote, seria nobre se pudéssemos realizar caridade, mas realmente não há dinheiro envolvido na federação, (a não ser com os colaboradores mais assíduos que gastam com compras de troféus ou passagens para viajar para as competições, mas tudo isso com dinheiro próprio e não da federação, que não existe) porém ok, “ e se fizéssemos arrecadações de dinheiro para uma espécie de cofre para com isso comprar premiações aos competidores?” Ótimo, mas para isso teríamos que ter colaboradores, correto? Por enquanto esse não é o cume da questão, então por hora a FBO será da forma que é, venha por entusiasmo ou amor ao jogo, não por dinheiro.

Vamos jogar no tabuleiro? _ Oi, me chamou?. Tabuleiro! Você quer jogar? Issoédecomer?

Algumas pessoas ainda sentem MUITA dificuldade para imaginar o que é jogar Reversi num tabuleiro, e por mais que seja uma experiência cediça para quem tem um em casa, é sim uma visão labiríntica a muitos, o sossego de ver as próprias peças viradas pelo programa de um tablete, smartphone ou website é tranquilizadora para boa parte dos jogadores, alguns não se imaginam, e se imaginam logo pensam que fariam errado, a ideia deles próprios virarem as próprias peças num tabuleiro parece a princípio absurdamente desconfortável para eles, então logo o chamado de participar de uma competição onde o instrumento de jogo será de plástico, mas sem qualquer microchip e não fará ligações, logo o desanima, e isso não deveria ser assim.

Sim, já houve a ideia de usar tabletes em competições oficiais, e foi lá na Europa, porém a ideia logo se extirpou por não haver uma alma que conseguisse doar 30 ou 40 peças dessas para a competição, logo teriam que ser limpas, pois sempre há o risco da pessoa trapacear se usar o próprio aparelho, ao menos é assim que eu penso. Então nada como o bom e velho tabuleiro, e minha dica é se você ainda vê ele com estranheza, compre um, não tá assim tão caro, compre aprenda e se divirta. E eu garanto, perderá não só o medo, mas também aprenderá a sentir o prazer que é desfrutar de jogar em um bom tabuleiro.

E agora um intervalo para os nossos patrocinadores!

Pois é, tem gente que acha que é assim tão fácil conseguir patrocinador, que o Brasil é o país do incentivo ao esporte, cultura e desenvolvimento e etc... Não, e vocês sabem que aqui no nosso país as coisas não são tão fáceis assim, não há verbas para cultura, lazer, educação, saúde, segurança, ciência e tecnologia, quem dirá para incentivo a um jogo de tabuleiro que nem é lá tão conhecido assim fora do mundo nerd e erudito. Quer dizer que é só mandar um email para a secretaria do esporte e voilá! Patrocinaremos o campeonato brasileiro de Othello, assinado: Sr. Ministro do esporte do governo federal, ou que seja algum secretário da prefeitura local... Não! Não é assim que acontece... E como já deixei claro acima, empresas privadas não querem patrocinar e divulgar um jogo “morto”, não é assim tão fácil, a não ser que você viva num mundo encantado de algum livro infantil onde coelhos falem, a realidade é bem diferente disso.

Se queremos conseguir algum patrocinador para bancar os nossos campeonatos, temos que “fazer rir” primeiro, temos que mostrar que vale a pena o investimento, que vale a pena pagar um licenciamento que custa a alma de mil gerações mundiais, mas que terá um retorno significativo, temos que divulgar o jogo em eventos (veja como os argentinos fazem), temos que ter vontade e não esse marasmo todo que é onde a FBO (onde eu me incluo) está, e principalmente os jogadores em geral estão, os jogadores que são viciados online também têm a sua responsabilidade, todos temos. Gente, nosso campeonato não deveria nunca ser apenas uma reunião protocolar, ou seja, algo para “firmar” o contrato com a WOF, com suas normas e diretrizes. Um dia me disseram que nós da FBO somos uma “panelinha”, que o campeonato é uma panelinha, mas eu respondi da mesma forma que vou escrever aqui, - O campeonato é aberto a todos, as ideias podem ser dadas por todos, o incentivo também, até mesmo sugestão e apoio para jogadores fora de São Paulo organizarem um campeonato brasileiro em seus respectivos estados foi dada, mas ninguém quis. Em resumo, como disse um colega nosso, quem acaba movendo tudo isso somos nós mesmos, concordei com ele, mas penso que não deveria ser assim.

Minhas conclusões

Eu realmente acredito que ta na hora de termos pessoas verdadeiramente emprenhadas com a FBO, e eu assumo que não tenho mais tanto tempo para isso, todos que estão no comando agora já fizeram muito, e como é uma coisa lógica todas as federações e associações tem que ter alguém no comando para não virar baderna, alguém com tempo livre e conhecimento, e principalmente VONTADE, sei que os protocolos existem, sei que há exigências a serem cumpridas, sei também que isso terá que ser ensinado para essa pessoa ou grupo de pessoas que estejam empenhadas em colocar a FBO em um outro patamar, essa pessoa não precisa ser presidente, secretário ou diretor, precisa apenas ser o guia para o caminho para um novo mundo, a Federação em minha opinião tem um dos melhores (ao menos no que diz de layout e estética)se não o melhor website para sua hospedagem, mas peca em ser instável e viver fora de sistema e ser pouco maleável, além de ser altamente dependente de terceiros para suas atualizações. Seja lá quem quiser ascender a federação terá que ter em mente algumas coisas que escrevi aqui nesse post, e nunca deixar de pedir a ajuda dos mais experientes, das pessoas que estão há mais tempo mexendo com isso, as pessoas que já conhecem os atalhos e têm alguns contatos pessoais “chave”, que sirva como facilitador para um bom empreendedorismo. É isso ai turma, já ouvi algumas propostas que pareciam bem legais, na verdade são legais, mas que nunca são aplicadas por falta de tempo de quem as propôs, mas nada impede delas renascerem como uma fagulha naquela chama quase apagada, temos que ter esperanças que coisas boas virão, e ter em mente sempre esse foco.

Valeu.

Links complementares


Reversi wikipédia

https://en.wikipedia.org/wiki/Reversi

Megahouse

http://www.megahouse.co.jp/megatoy/products/item/1563/