domingo, 5 de fevereiro de 2023

O Efeito Gavroche




 
Olá meus queridos e minhas queridas, como vão?


Hoje finalmente resolvi falar de um assunto que há anos me intriga, de certo que na verdade o assunto de hoje é apenas um "gênero" de todo o espécime. Quais seriam as circunstâncias que direciona o comportamento de alguns poucos jogadores a tão somente jogarem contra jogadores absurdamente fracos no site Flyordie. E é claro que estou falando do nosso jogo favorito: o Othello/Reversi.


Eu entendo o quão frustrante deva ser jogar contra alguém com um nível retumbantemente maior do que o nosso, uma vez que esse fato nos tira todas as boas expectativas de aprendizado absorvido ou vindouros, já que as derrotas frente a estes predadores costumam ser, não (ou nada) raras, avassaladoras, então sim... entendo.


Mas o legal não só no jogo quanto na vida é que o tempo passa, os aprendizados vêm naturalmente, ao seu tempo, bem como a resiliência e humildade necessária para entender que sempre haverá jogadores superiores a nós também, jazem como algo tão claro quanto o sol em um lindo dia de verão, verdade que valerá muito mais como deslumbre e apreciação do que como algo a se debruçar, pois assim a única coisa que ganhará será ensolação, miopia ou cegueira (a beleza e a dádiva também machucam, e até matam).


Bom, depois dessa mini-introdução, apenas quis dizer que tomando os devidos cuidados, usando de uma certa disciplina e dedicação, nada nos impede de enfrentar jogadores um pouco ou até bem mais fortes do que nós, mesmo que as derrotas venham, e hei de vir em abundância de início, mas toda essa forja em brasa incandescente tenderá a tornar-vos um metal mais robusto, resistente e afiado.


Mas, o que acontece com alguns jogadores da nossa plataforma húngara, o Flyordie?


Pois bem, apresento-vos o Efeito Gavroche, em homenagem a um nickname fake da plataforma que somente jogava contra jogadores que tinham 0 pontos (zero pontos).


Talvez eu devesse ignorar esse fato, mas por ter uma mente naturalmente investigativa, e ser um apreciador do comportamento humano, ficaria difícil não tentar entender a mente por detrás desse nick.


Por que ela agia dessa forma? Foram anos fazendo a mesma coisa, um hábito implacável, irredutível e uma retidão quase religiosa a um rito nonsense, uma disciplina que deixaria qualquer "homem de valor", estoico, shaper ou investidor em criptomoedas com inveja! Todos, ou quase todos os dias lá estava ela buscando o dia inteiro adversários que tinham 0 pontos. De fato ela por ser boa o suficiente para ganhar dos péssimos dos péssimos, acumulou muitos pontos e subiu ao status vermelho, que para quem não é assinante do site, é o escudo mais alto da plataforma. Ah, então tá resolvido, ela só queria ficar com o escudo vermelho! Será?


Mesmo após atingi-lo, a mesma (tomei a liberdade de definir o gênero como feminino, porque a mesma já usou por anos uma foto feminina, mas de fato ninguém sabe com certeza o gênero) continuou, e continuou ininterruptamente, seria agora por pontos?


O Flyordie tem uma regra que proíbe essa prática (jogar contra fracos para ganhar pontos de maneira recorrente) mas ninguém fiscaliza isso, nem mesmo outras normas. Mas um dia ela foi banida e perdeu todos os seus pontos, o que a fez protestar e, continuar jogando contra os 0 pontos até ser escudo vermelho de novo.


Agora que já entenderam um pouco da natureza da dona do nick em específico, lançarei meus questionamentos, mas espero já deixar claro que não estarei sendo generalista, capacitista, ou gerontofóbico (idosofobia), apenas serão indagações de um leigo tentando entender algumas coisas.


Envelhecimento:


É natural que depois de uma longa vida de trabalhos e estudos, finalmente chegue o esperado momento da aposentadoria, o que faz com que o tempo ocioso aumente, em detrimento disso, surgem recomendações muitas vezes de terceiros para que continuem exercitando o cérebro e, a soma disso é uma permanência excessiva em sites ou aplicativos de jogos, já que são fáceis de acessar, simples, intuitivos e viciantes. Porém, ao contrário de um bebê, criança ou adolescente, uma pessoa idosa mesmo que com a ajuda natural da neuroplasticidade, tem em geral um nível de aprendizado menor a de uma pessoa jovem, o que impede um progresso significativo no jogo, mesmo que a extensa experiência de vida e até a boa noção em outros jogos similares até ajude um pouco, não é o suficiente para absorver o novo como uma pessoa jovem, então nesse caso alguns idosos se frustram, têm uma longa sequência de derrotas, que por sua vez gera um extenuante e massacrante ataque a autoestima. Alguns lidam bem com isso? Sim, conheço jogadores idosos que não se importam nenhum pouco com isso, mas seria ela, a nomeadora do Efeito Gavroche uma exceção?


Ou seja, nesse caso seria uma mulher de avançada idade, porém com um ego muito inflado, ao qual não aceitasse a derrota, eis o motivo de jogar somente contra jogadores dos quais ela tenha uma boa ideia serem inferiores tecnicamente a ela. Uma vez tendo tempo de sobra e ego demais, viciou nessa prática autoenganativa como se tomara uma pílula de serotonina a cada vitória.


Autismo:


Como bem sabemos, pessoas com espectro autista gostam de rotinas, e há alguns degradês que diferenciam essa condição, ao qual não tenho conhecimento acadêmico para discorrer, mas em geral são em média bem inteligentes e levam uma vida normal, já que o autismo em si não é doença, e sim mais uma forma humana de ser. O fator inteligência dessa condição contradiz o fato de a detentora do Efeito não ser muito expert no jogo, uma vez que é uma jogadora bem mediana, mas... teria algum autismo e o fator rotina diária, com ela jogando em seu cantinho favorito da casa, com seu computador, notebook ou celular, sempre contra jogadores com 0 ponto, o indício de que seja esse o caso?


Doença/Internação


Seria a detentora do Efeito uma paciente hospitalar ou alguém sem condições de viver socialmente por limitações em decorrência de questões de saúde, presa a uma cama, quarto ou hospital? De fato, estar nessa terrível condição deixa qualquer boa alma para baixo, o que não seria surpreendente tentar se progetar virtualmente como alguém forte, não importando os meios.


Mas, convenhamos, ainda assim a chance seria bem pequena, já que pessoas nessas condições costumam ser bem resolvidas, já que grandes obstáculos na vida tendem as nos amadurecer, a ver a vida sob uma nova perspectiva, de certo querer "ser escudo vermelho" a qualquer custo em algum site soe de maneira deveras infantil, o que não condiz com a maturidade dessas pessoas em geral.


Imaturidade Cronológica:


Sabemos que crianças e adolescentes não medem palavras ou atitudes tal como um adulto psicologicamente saudável, já que a área do córtex pré-frontal demora até os 21 ou 23 anos de idade para se consolidar (essa área cerebral além de outras coisas serve para o discernimento, filtragem e controle de impulsos) o que por sua vez poderia se manifestar dessa forma em um site, pois também sabemos que é nessa idade que se inicia a purberdade (no caso dos adolescentes) e seus hormônios, junto a todo o processo autoafirmativo dentre seus pares, e talvez alguns destes falhando nesse processo tão difícil e importante, que é o encaixe social, se frustre com o mundo e, despejem toda sua ira sendo o mais notado e forte personagem dentro de uma plataforma online, que no caso seria o Flyordie, seja através do uso de softwares especializados para angariar pontos, seja burlando regras para subir o score, dentre elas, jogar só com quem tem 0 pontos ou até mais pontos, desde que seja alguém fraco (deixando um adendo aqui: nem sempre quem tem 0 pontos é ruim, pois TODOS que criam nicks começam com 0 pontos, em teoria até mesmo o campeão mundial, outra coisa é que basta apenas uma vitória para subir do 0 ao 15 pontos, ou seja, jogadores de até 100 pontos e sem experiência, ainda são terrivelmente fracos), então seria apenas uma criança ou adolescente extremamente frustrado com o mundo real, protegendo seu ego e autoestima em um site de jogos?


Nesse caso, uma garota com não muita idade que está se divertindo jogando contra jogadores fraquíssimos e se iludindo com a sua própria pontuação, enquanto usa a imagem de alguma personagem do Rebeldes em seu perfil. E sim, era essa a imagem de perfil durante um bom tempo.


Bonificações do site:


Dependendo do número de partidas, tempo online, e frequência e quantidade que joga os torneios do Flyordie,  qualquer um ou quase, pode ganhar algum agradinho da plataforma, como uma estrelinha amarela ao lado do nick, por exemplo. Há jogadores lá que participam de todos os torneios de todos os jogos atrás dessas premiações, mas... a dona do Efeito não, ela não jogava torneios, uma vez que por lá há muitos jogadores com mais de 0 ponto, claro. O que segundo suas regras, já é alguém forte para ela, mesmo que tenha 1 ponto.


Lembram quando disse que esse Efeito era apenas um gênero de um espécime muito maior?


Então, por lá também encontramos além de predadores de 0 pontos e/ou jogadores fracos com poucos pontos, os programeiros contumazes, ao qual estão há anos e anos quase todos os dias, convidando jogadores com alta pontuação para jogar e roubar pontos, usando seus respectivos programas, vai desde jogador antigaço e veterano, a jogadores que surgiram mais recentemente.


Em alguns desses exemplos, temos alguns que se negam a acreditar que exista alguém que passe dos 600 pontos sem usar programa, meio que projetando a própria desonestidade sobre os demais (eu e vários passamos dessa margem de pontos facilmente sem problemas, não é difícil), a quem se odeiam entre si, mesmo sendo e fazendo as mesmas coisas (dois bicudos não se bicam?) de qualquer forma estão quase todos os dias lá há anos. Seria para fortalecer a biblioteca do próprio programa? Seriam programadores? Seria bom se fosse, mas muito provavelmente não é o caso. Não digo que seja geral, pois para cada regra há uma exceção, antigamente no Flyordie existia um jogador brasileiro que somente jogava usando programa, mas naquele caso era sabido, como ele próprio disse, para aumentar a biblioteca do seu próprio programa, já que ele sim, era um programador. Outra coisa a esclarecer aqui, é que por incrível que pareça, usar programa no Flyordie não é proibido! As regras dos sites permitem em teoria que cada jogador tenha 2 nicknames, um para jogar com as próprias habilidades, e outro para jogar usando alguma enginer, de qualquer forma o site marca o nick do programa com uma exclamação vermelha à frente do nick (!).


Agora voltando aqui ao Efeito Gavroche, mais em especial ao ritual dos 0 pontos, talvez, e só talvez algo do que escrevi se aplique a eles, eu não sei. Mas, sempre achei esse comportamento absurdamente estranho.


Há outra singular turma, que são os que nunca aprendem a jogar estrategicamente (só conhecem as regras e a importância dos cantos) chegam a ter mais de 180 Mil partidas finalizadas, e jogam desde 2009 ou os mais recentes desde 2013, mas continuam com um nível baixíssimo de habilidades, chega a ser quase inexistente qualquer noção de estratégia que vá além da importância dos cantos como já dito anteriormente. Porém acho que todos devam ser manifestações do mesmo processo, mas expressos de formas diferentes. Destes, os que têm ego inflado apelam para os mais fracos, ou usam de trapaça, os que são mais tranquilos, apenas jogam sem parar por anos sem apresentar quaisquer mudança perceptível em seu progresso técnico e, sem qualquer objetivo a curto ou longo prazo. É a pura recreação.


Agora para as considerações finais, o que tiramos de tudo isso? Não sei, mas acredito que os iguais de uma forma ou de outra acabam se encontrando, o jogador que não tem interesse em progresso, acaba voando baixo, e acaba virando presa de outro tipo de jogador que não pensa em, porém aprende o básico para derrotá-lo. Por outro lado a turma que não quer ou não consegue aprender e, usa de trapaça para angariar pontos, trombam com jogadores que também amam pontos, mesmo que não usem programa.


Enfim, acho que é isso que tinha a falar, espero não ter ofendido ninguém com esse breve texto, e que todos tenhamos tirado alguma coisa curiosa de tudo isso.


Obrigado.

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Fan Mien, O Reversi Milenar Existiu?

 



Olá a todos, tudo bem com vocês reversianos?



Vamos falar de um assunto interessante hoje aqui, um no qual remete a um hipotético ancestral milenar do nosso tão amado jogo Othello/Reversi. Afinal, existiu mesmo o Reversi milenar e, qual a origem dessa história (ou estória) que alguns sites propagam por ai? Bora lá?


Pois bem meus amigos e amigas, já venho notado há um tempo, incansáveis sites propagando em suas repartições publicitárias ou explanativas, textos que fazem alusão a uma possível origem oriental e milenar ao jogo Reversi, que peremptoriamente propagam as mesmas explicações de que: “Reversi é um jogo cuja história ninguém sabe ao certo, e que alguns acreditam que foi criado em Londres por John  W. Mollett ou por Lewis Waterman no século 19, e outros creem que foi criado na China com o nome 'Fan Mien'", tais sites disseminam as duas hipóteses com pé de igualdade como se de fatos fossem antagônicas e igualmente aceitas pela comunidade Internacional de jogadores e estudiosos da história do jogo, o que me fez elaborar a seguinte questão: Será mesmo que o estranho jogo Fan Mien foi de fato o predecessor do jogo Reversi na antiga Londres, ou terá sido isso uma invenção que através de boatos se propagou como um incêndio e se alastrou por inúmeros sites ao redor do mundo?


Venha comigo e, vamos ver o que descobrimos sobre essa história, (ou seria “estória”?) em torno do lendário Reversi Milenar...


Fan Mien


Estava eu a navegar pela web tentando conhecer o "vovô" do Reversi, que diziam se chamar: Fan Mien, esse era o nome desse belo e notório ancião de importantes reinados antigos e, ansioso eu estava para poder vê-lo, tamanha foi a minha surpresa ao descobrir que o ancião milenar não era lá muito fã de fotografias, ao ponto de nenhum artefato fotográfico ou pincelada artística terem engarrafado um vívido e límpido retrato deste senhor reversiano... Fiquei encabulado, eu confesso, mas não sou de desistir assim tão fácil e, prossegui afinco na busca, quase arqueológica, dentre todos os fragmentos empoeirados das vastas dinastias no encalço do famigerado "Fan Mien" o tal jogo que alguém, de talvez suma importância, atribuiu valor inegável, na base do que viria a ser, o Reversi londrino. Céus e céus, não encontrei nada além de ctrl+c e ctrl+v... Apenas cópia e cola, tanto em inglês quanto em português, de uma tal ascendência reversiana provinda de um tal jogo oriental chamado "Fan Mien"... Mas, o dito cujo, não vi e não consegui traçar nenhuma linha direta entre quaisquer jogo daquela parte do mundo com o Reversi londrino, a não ser aquela explicação da associação japonesa de Othello onde correlacionam a base do Othello de Goro Hasegawa ao GO, coisa da qual todos já devem saber, se tratar possivelmente de um desvio documental. Em minhas pesquisas, e com a ajuda de um amigo que logo, logo citarei aí abaixo, notei que a ideia de um jogo chinês, com características similares ao jogo londrino e, consequentemente ao nosso Othello, germinou de um livro lançado em 1954, por E.O. Harbin (pseudônimo?) chamado: “Games of Many Nations” onde, dentre provavelmente muitas menções, ele citou um jogo chinês que devia lembrar o Reversi londrino em seu aspecto estrutural e estratégico, e só. Infelizmente esse livro é de difícil acesso para nós brasileiros, eu pessoalmente gostaria muito de saber de onde Harbin tirou estes enunciados, gostaria de saber e estudar suas premissas, mas o que tenho e o que me chega em pesquisas tanto em inglês, português e mandarim são fragmentos de tudo que conseguiram enxugar de sua obra lúdica e, que frustantemente não explana absolutamente nada sobre as conclusões que tiraram de sua obra, sobre a origem do jogo Reversi, prerrogativas quase que “religiosas” por parte de propagadores da ideia do Reversi milenar.



Acredito que Harbin por si só não teve um papel tão decisivo na disseminação da ideia, e sim alguns de seus leitores que detinham algum conhecimento sobre o jogo londrino ou da recém invenção patenteada de Hasegawa, o Othello; e que em um frenesi de deslumbramento e entusiasmo, (e também hiper-propagada com a ajuda e advento da Internet, em um mundo onde o que se passa "nas nuvens" do ciberespaço ganha cada vez mais importância do que se passa fora dele) propagaram que o jogo Reversi se equivalia aos jogos mais tradicionais já conhecido, como GO, Xadrez ou Mancala, e que o colocando como um sobrevivente milenar, ganharia suma importância frente aos concorrentes do mundo contemporâneo, seria muitíssimo legal, se não fosse um possível engano. Não há correlação alguma de jogo oriental com o Reversi inglês e, cansado de procurar e não achar absolutamente nada, pedi a ajuda de um amigo que também tem um certo tato para pesquisas, Alfredo Jara, editor do blog “Othello No Brasil” e tradutor do livro: “A minute to learn... A lifetime to master” de Brian Rose para o português, e fiquei surpreso quando o mesmo descobriu por exemplo que o nome "Fan Mien" é o nome de uma cidade ao sul da China, seria possível que Harbin (se é que ele foi para lá ‘algum dia e ainda por cima’ durante as décadas de 1940 e 1950 em plena Revolução Chinesa, conjecturou) viu um jogo similar ao Reversi nessa região e à priori concluiu que devesse ser “vô” do mesmo? O mais estranho foi a descoberta de que "Fan Mien" em tradução livre para o português significa: “Do outro lado” ou algo similar a isso, que remete a ideia de “dois lados”, binarismo, antagonismo ou algo de sentidos contrário, ideia que lembra a dinâmica do jogo Reversi de fato. Estranhamente eu já havia descoberto, ao pesquisar sobre quem de fato foi E.O. Harbin, que “Harbin” na verdade, é também o nome de uma cidade ao norte da China, onde é comemorado um festival na cidade de gelo, que é como a cidade fica de dezembro a fevereiro durante esse festival, (nem mencionei o fato de uma cidade ficar ao norte e outra ao sul, “binarismo”?). Sobre o tal Harbin, o amigo Alfredo Jara descobriu e me enviou um link, onde detalhava algumas informações sobre o mesmo, e dentre essas informações, pude ver que ele escreveu outros livros, tais como: “Nova Enciclopédia da Diversão (1985), Diversão e jogos antiquados (1978) FUNOLOGIA: 1.000 Jogos e planos de entretenimento (1951) dentre outros” e descobri que ele fazia parte do conselho de educação da Igreja Metodista, e nada mais além de uns ensaios de filosofia é possível obter desse anônimo escritor. A verdade é: Enquanto há uma miríade de evidências, pormenorizadas traçando possíveis elos entre o Reversi londrino e o Othello atual, com documentos, livros e jornais, já com seja lá o que Harbin aborda em seu livro, não há uma só prova esticada para páginas de Internet que pudessem ser analisadas por especialistas em jogos de tabuleiros, não há nem sequer uma imagem digna do que seria esse tal jogo de origem chinesa chamado "Fan Mien", não há outros autores falando do jogo e, por fim, não há nenhum órgão oficial do jogo Othello que mencione "Fan Mien"como sendo precursor do Othello atual. Não estou aqui dizendo que tudo que órgãos oficiais dizem deva ser crível tão somente pela égide da “autoridade”, pois há muitos veículos por ai, oficiais, que falam absurdos tamanhos em quase todos os assuntos da sociedade humana, mas quando todos os órgãos oficiais, com bases concretas, dizem a mesma coisa, é um bom sinal de que aquele possivelmente seja o caminho correto, apenas nos cabendo averiguar se de fato é.



Rota da Seda



Sabemos de toda a importância dessa antiga rota no comércio e formação de grandes civilizações no passado, tal como a egípcia, mesopotâmia, indiana e obviamente a própria chinesa, que se fazia valer guardando o segredo a sete chaves da receita de fabricação da seda, produto esse que nomeou a rota. Como também foi de suma importância no transporte e distribuição de animais domésticos, porcelanas, artefatos culturais, invenções das mais variadas, alimentos exóticos e etc. E até mesmo de traços culturais, linguísticos e religiosos que migraram de povos para povos durante anos de existência da rota. Essa rota não só importou seda, como também não somente se limitou à terra firme, as suas rotas marítimas com o domínio das técnicas de navegação, tiveram real importância ao longo do tempo na influência cultural de todas as regiões e culturas daquela época.



Então, teria algum jogo com dinâmica reversiana atravessado essa rota da China à Antioquia, posteriormente Pérsia e depois Europa? Ou costa marítima indiana, árabe, Mar Mediterrâneo e Europa? Quem sabe? Porém não irei discorrer sobre esse assunto por ser bastante complicado e exigir maior especialidade na área, o que posso dizer é que não achei nada que me levasse a crer na teoria de Harbin. Outro fato é de que, se o único critério que Harbin usou para concluir que um jogo era parente de outro foi somente sua similaridade, isso acaba em uma enxurrada interpretativa da qual cada um, a seu bel-prazer, poderia rotular como primos, qualquer jogo com regras e estilos parecidos, mesmo que distantes geograficamente e no tempo, como por exemplo o jogo “Latrúnculo” que em um lance rápido de olhar, qualquer ser humano que conheça o jogo Reversi, diria se tratar do mesmo jogo... E não poderia ser diferente, tabuleiro 8X8 e peças pretas com brancas ou vermelhas, o problema é que esse é um jogo com regras diferentes e tão antigo que era jogado no Império Romano e até mesmo antes disso, na Grécia antiga. O tabuleiro que Mollett criou e, que posteriormente Waterman sofisticou, era em formato de cruz, pois bem, que tal dizer que Mollett se baseou num jogo chamado “Patolli”? Nada mal, já que este também era um jogo em formato de cruz, o problema estaria no fato de que este era um jogo com regras e dinâmicas muito diferentes do Reversi de Mollett e, que fatidicamente era jogado por povos da Mesoamérica, de nobres Astecas à Maias, este era um jogo muito popular naquela época, desde 200 AC à 1521 DC. Ainda na região asiática, teríamos o “Ming Mang”, originário do Tibete, que detém um tabuleiro parecido com o jogado em Reversi, (também na antiguidade foi jogado em tabuleiros de GO 17x17 e/ou 19x19, dependendo da época) e modos de capturas de peças que ligeiramente lembram um pouco o jogo Reversi, tanto quanto o próprio GO o lembra, jogos de regras parecidas, mas sem vínculo direto. Como veem, não da para somente correlacionar jogos pela suas similaridades anatômicas e até mesmo estratégicas. Acredito que determinar criações (e também seres vivos) como próximas tão somente pelo critério anatômico, é tão errôneo que levar-nos-ia a conclusões risíveis, como dizer por exemplo que a Pirâmide de Tenochtitlán da civilização asteca, que foi construída em 1375, teve como base e influência as pirâmides egípcias de 4.000 mil anos atrás, como a pirâmide de Gizé por exemplo - a não ser que você acredite no que o excêntrico livro “Eram os Deuses Astronautas?” de Erich von Däniken diz a respeito disso, com alienígenas ditando as regras e toda a fantasiosa ideia. A lógica (construir amplo embaixo e mais cônico acima, para sustentar o peso) e a laboriosidade tanto quanto a engenhosidade humana explicam melhor essa questão do que suposições fantasiosas. Ainda citando outro exemplo, agora dentro da zoologia, seria o mesmo que dizer que morcegos são pássaros somente porque têm asas e quase sempre têm o mesmo tamanho, não é assim que a taxonomia de animais funciona, correto? A não ser que você esteja amplamente desatualizado nessa questão. Voltando ao assunto principal, temos jogos nascidos do Reversi vivos hoje em dia, poderia falar alguns, mas vou me abster somente em dois, o primeiro é o “Biversi” de Bill Taylor, jogo esse jogado em um tabuleiro de 9X9, onde dois grupos de peças pretas e brancas (um na esquerda superior e outro na direita inferior) dispõem-se nas intersecções dos cruzamentos das linhas em verticais e horizontais (assim como no GO), jogo de regras similares ao Reversi e de conexão direta com o jogo Reversi. Já o outro jogo é o “Revertello” de Fred Horn (jogo de 2004) é jogado em um tabuleiro hexagonal, com três peças brancas e pretas dispostas já no início da partida, no centro do tabuleiro. Os dois jogos citados, quanto outros dos quais não mencionei, tem parentesco direto com o jogo Reversi, o fator histórico e documental sempre vem em primeiro lugar em qualquer julgamento dessa natureza, mas sendo o mais preciso possível, qual é exatamente o elo decisivo que une o Reversi londrino ao Othello atual? Quer minha opinião sincera sobre essa correlação? Então lá vai, a base de criação do Othello atual, teve estímulo no Reversi londrino, porém eu estaria enganado se dissesse que isso é uma verdade inquebrável, pois devido ao grande hiato secular entre as duas criações, fica difícil traçar um paralelo irrefutável e intrínseco entre os dois jogos, sem contar a resistência cultural japonesa em dar alusão a tudo que venha de fora do Japão, falo isso pois até mesmo a Associação Japonesa de Othello, até o momento, nunca chegou a mencionar em seu site oficial a história bem documentada do Reversi londrino, talvez por questões comerciais ou copyright, no máximo eles podem encaixar a ideia da criação do Othello, ao jogo GO. E então você me pergunta: Mas o GO é um jogo chinês, correto? Sim, mas foi levado ao Japão muitos séculos antes e, meio que se incorporou à cultura local e ficou indissociável dos campos japoneses, tanto quanto o jogo Dominó (que também é de origem chinesa) se incorporou à cultura brasileira dos sonhorzinhos no bar jogando e bebendo, isso era mais popular antigamente aqui no Brasil, confesso, mas ainda é tangível como sendo algo peculiar à nossa cultura, e até mesmo a cultura latino americana em geral. Talvez por isso, foi mais fácil à associação japonesa de Othello intricar “Othello + GO”, isso seria como estar falando de jogos inventados no mesmo país... e olha que ainda faltavam muitos anos para que Yumi Hotta criasse um dos mais premiados Animes da história, o “Hikaru no GO” que foi uma sensação no Japão, elevando a popularidade do GO a um patamar quase sem precedentes na história! 


E então, voltando ao tema principal dessa postagem, conhecendo a tendência humana para invenções, será mesmo que no antigo Oriente, sem provas concretas e verificáveis, se baseando apenas em interpretações póstumas ao que um autor anônimo escreveu décadas atrás, é possível dizer que a proposta do Reversi milenar seja o predecessor do Reversi londrino e, consequentemente do nosso Othello atual?


Acredito firmemente que se você, leitor desse blog, for uma pessoa com um nível de ceticismo balanceado, saberá da resposta na ponta da língua, que será a mesma que a minha, um sucinto não. Mas, caso você leitor desse blog, por algum motivo conjecturou possibilidades das quais eu não me atentei e, acredita sim numa origem milenar e oriental para esse jogo, sinta-se à vontade para comentar logo abaixo nos comentários e, (sem ironia alguma) informar as fontes para que eu possa colocar um adendo com tais fontes, além dos agradecimentos.



Mas, por hora a minha opinião é a de que Fan Mien o famigerado tal Reversi milenar, é uma invenção, um equívoco que provavelmente nem mesmo partiu do autor do livro.


De qualquer forma, deixo claro aqui que aprecio e consumo cultura oriental em geral, seja a bela e futurista cultura japonesa, seja a exótica e moderna cultura chinesa, bem como a revolucionária cultura coreana, sem falar em todas as belas paisagens e história que há em todo o Oriente, que são encantadoras e riquíssimas em conhecimento.


Meu muito obrigado, e até mais.




Algumas fontes e complementos de leitura:




Di.fc.ul. (um dos sites que criticam a história chinesa do Reversi)




http://www.di.fc.ul.pt/~jpn/gv/othello.htm 




El Reversista (o mesmo conteúdo do site Di.fc.ul, mas mais resumido e em espanhol)



https://sites.google.com/site/elreversista/variantes/tipos-de-movimientos-adicionales-o-distintos



Othello Classic (um resumo da história oficial do jogo)



https://othelloclassic.blogspot.com.br/2011/07/quem-inventou-o-othello-mollett.html



Othello Classic (um resumo da história do jogo no Brasil)



https://othelloclassic.blogspot.com.br/2017/06/o-resumo-da-historia-do-othello-e.html



Harbin, a Cidade de Gelo



http://www.mdig.com.br/index.php?itemid=22804 



Fan Mian, Cidade Chinesa



https://www.google.com.br/search?q=Fan+Mian+-+China&oq=Fan+Mian+-+China&aqs=chrome..69i57j69i60l2.5120j0j8&sourceid=chrome&ie=UTF-8 




Setup Group, INC. (um dos propagadores da história do Reversi Chinês)



http://www.setupgroup.com/xo/othello.php 




China Link Trading (os jogos mais populares da China)



http://www.chinalinktrading.com/blog/os-jogos-mais-populares-na-china/




List Verse (os 10  jogos mais populares na China)



http://listverse.com/2013/01/20/10-most-important-board-games-in-history/




Yahoo (um pouco sobre Harbin, o autor)



https://answers.yahoo.com/question/index?qid=20071220154331AASKxNC




Youtube, Documentário Sobre Jogos da Antiguidade – GO e Xadrez Chinês



https://www.youtube.com/watch?v=YMVaUN0YAXc



Wikipédia - Reversi (História Oficial)



https://en.wikipedia.org/wiki/Reversi




Wikipédia – Latrúnculo



https://pt.wikipedia.org/wiki/Latr%C3%BAnculo



Ludopedia - Patolli



https://www.ludopedia.com.br/jogo/patolli 




Amazon (livro do Harbin: Game of Many Nations)



https://www.amazon.com/Games-Many-Nations-Harbin/dp/B0000CJ13V 



Agradecimentos



Alfredo Jara



Link para o seu blog: http://othellobrasil.weebly.com/

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Afinal, Jogar Othello/Reversi Vicia?

 



Afinal, Jogar Othello/Reversi Vicia?


Quais o males e benefícios que jogar um jogo de tabuleiro online pode trazer?

Usando como base minha própria trajetória no meu desenvolvimento no jogo e, observando a rotina de outros jogadores em diversos sites, já pensei em qual exatamente seria a distinção entre um jogador viciado e um "recreativo", se é que usar essa palavra aqui faria algum sentido, e após ler um artigo tratando do vício em gamers (já que jogos de tabuleiros, ao que me parece, são meio negligenciados pelos órgãos de pesquisa) resolvi dar minha opinião pessoal, comum, prudente mas nada especializada aqui.

A anedota é visível, uma vez que não há nada muito específico tratando de "viciados contumazes" em jogos de tabuleiro online, porém existe um relatório da OMS, (Organização Mundial de Saúde) apontando que vício em games é uma doença mental, tal como o vício em álcool, nicotina, drogas ilícitas, redes sociais ou jogos de apostas. Há cerca de 3 bilhões de gamers no mundo, mas de qualquer forma somente 1.6 milhões desenvolveram algum transtorno, uma taxa bem baixa, então se acalme.

Mas, como identificar um adicto?

Geralmente as maiores características está presente no negligenciamento das questões sociais, família e trabalho, em prol de um tempo exagerado e descontrolado em frente à um console ou mecanismo usado para jogar, comportamentos esses muitas vezes acompanhados por comorbidades, tais como depressão e ansiedade. Em média, pode-se dizer que se o indivíduo está assim no mínimo há 1 ano, ele tem alguns transtornos mentais.

Vale ressaltar mais uma vez que o número de indivíduos que desenvolve um vício é muito baixo, e que a maioria das pessoas usam tais jogos como meio de relaxamento, passatempo, sociabilização ou um leve hábito; ainda há quem trabalhe com jogos (streamers, por exemplo) que ficam horas e horas em suas respectivas lives, 2, 8, 10 horas ou mais, e não desenvolvem vício algum, é apenas um trabalho para eles.

Então, voltando a pergunta do início da postagem: Othello/Reversi vicia?

Depende, se você meu caro leitor está dentro de um site jogando tanto que esqueceu até de se alimentar, não falou com a sua família ou amigos durante dias, teve problemas no emprego por causa do benedito jogo de virar as bolinhas por no mínimo 1 ano, então a resposta dura e crua é sim, ao menos você, se é que existe outro alguém por ai, está viciado em Othello/Reversi e deveria procurar um especialista para tratar isso. Mas, se você apenas joga pela força do hábito, conversa com seus amigos e familiares e até sai para passear, não se atrasou ao trabalho devido àquelas partidinhas intermináveis, meus parabéns, pode até ser um cara grudado no jogo, mas segundo os parâmetros da OMS, você não é um viciado em Othello/Reversi.

Mas, fica a indagação: hábito vicia?

Sim, ao menos dentro dos circuitos cerebrais, um hábito não tem muita diferença de um vício. O que quero dizer com isso é muito evidente meu caro jogador; que por mais que você não se encaixa em uma tipificação não significa que esteja à salvo de transtornos semelhantes a quem atende todos os maus requisitos.

Lembro que em 2007, quando eu tinha a possibilidade, praticamente eu jogava horas e horas quase todos os dias, minha mente estava conectada de tal forma nesse jogo que eu nem sequer pensava na possibilidade de desconectar.

Não foi 1 ano inteiro, e nunca deixei de cumprir minhas funções devido ao jogo, nem perdi minha sociabilidade (não que ela fosse ou seja uma coisa notável), mas esse hábito não me dominava, por assim dizer? A força do hábito é inegável.

A vantagem foi que tive uma base de dados mentais formidável que me ajudariam mais tarde a lapidar através de treinos e análises o meu estilo e desenvolvimento no jogo, em contrapartida não sei, nem posso dizer se vários colegas de site, de diversos países, de uma miríade de diferentes sites, se tinham a mesma flexibilidade que eu naquele momento, ou se estavam ali por puro vício, creio que não, mas será que em algumas pessoas o hábito de jogar diariamente não poderia trazer mais malefícios do que benefícios mesmo que estes não se enquadrassem em critérios da OMS?

O jogo Othello/Reversi é esplêndido, amo esse jogo. Acredito que junto com a leitura me trouxe sim benefícios, além de ter me dado a possibilidade de conhecer pessoas incríveis pelo caminho e, penso que seja igual a outros jogos de tabuleiros, bem como para jogos eletrônico e toda a indústria gamer.

Mas, nunca perca sua observância, analise se o seu hábito de jogo está te prejudicando em algo, se estiver, pare um pouco, reflita e coloque na balança se vale de fato a pena desperdiçar seu tempo em uma atividade que à você, não está sendo tão produtiva e do qual não está lhe trazendo benifício algum e procure a ajuda de um profissional o quanto antes. A vida lá fora pode ser um jogo muito mais complexo e interessante do que este. Mas, se não está te causando nenhum mal, desfrute, e curta o jogo.

Abraços.

O editor.


Fontes:

La adicción a los videojuegos es una enfermidad mental, anunció la OMS.

https://www.pagina12.com.ar/401046-la-adiccion-a-los-videojuegos-es-una-enfermedad-mental-anunc

Vícios em jogos: quando procurar tratamento?

https://dramichelleteixeira.com.br/vicio-em-jogos/



sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

Uma Breve Síntese Metafórica






Como penso jogando Othello/Reversi?


O jogo Othello/Reversi é um jogo de raciocínio altamente abstrato, ao contrário de jogos como Xadrez ou Damas em que as peças vão sumindo, deixando cada vez mais casas vazias no tabuleiro, no Othello isso não acontece. A cada movimento, as casas vazias vão diminuindo e o número geral de peças aumentando.


Costumo dizer que o Othello é um jogo entrópico, do termo entropia utilizado no estudo da física, que se refere a desorganização que a matéria tem com o tempo (um ovo quebrado não volta mais a forma original) tudo na natureza tende à desordem, e assim é o jogo Othello; começa organizado e fica mais caótico a cada movimento.


Então, também poderia utilizar outra metáfora aqui, como se o jogo fizesse um paralelo com o que vejo nas bolsas de valores. Então as peças seriam como ações da bolsa, a oscilação no valor de cada peça varia de acordo com o contexto.


Logo, se vejo que uma peça tem valor ao meu oponente, eu extraio ela (reverto para a cor da minha peça) para que ele não a utilize. Se vejo que uma peça minha tem valor, a uso no momento oportuno, e abro mão dela se perde o valor.


Nesse jogo, ganha quem sabe segurar ou abrir mão de peças na hora certa, e quanto mais antecipar o "valor de mercado" melhor será para você.


É um jogo muito interessante.

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Os Melhores Jogadores Brasileiros de Othello/Reversi, de 2004 a 2022





E aqui estamos nós mais uma  vez para essa gloriosa e controversa lista, na qual dentro de um espectro atualmente individual, particular e dentro dos meus limites, analiso o desempenho dos jogadores brasileiros aos quais conheço o nickname em sites como o Flyordie, PlayOk, Othello Quest e Vint ee, juntamente em sites de escopo oficial on board, como é o Live Othello e em torneios online diversos, seja organizado por órgãos oficiais da modalidade, seja por entidades autônomas e, aqui estamos.

Não há como ser perfeito ou totalmente justo quando se tenta criar uma lista dessa, sempre haverá deslizes, esquecimentos, avaliações incompletas ou desatualizadas, mas tentei fazer o meu melhor dentro da minha paciência, ferramental e disponibilidade (que não está nem 90% do que posso).

Praticamente juntei minhas análises feita em março desse ano de 2022, com o que observei mais recentemente em competições online e em tabuleiros, para formar essa lista com os melhores jogadores brasileiros de Othello. Então posso citar como fonte das minhas observações nomes oriundos dos torneios online realizado em 2020 na junção Criciúma -SC e FBO, em que acenderam ao cenário de jogadores brasileiros nomes antes desconhecidos, torneios online autônomos em que organizei como o Carma Open e o Caos Championship, em que tive alguma ajuda, o último Campeonato Paulista Oficial e o Campeonato Brasileiro Oficial realizados pela FBO, além dos já elencados sites de jogos online.

O que analisei para determinar o nível técnico de cada jogador?

O que observamos primeiro online quando dizemos se um jogador é bom, forte e rápido? Geralmente associamos essas características quase sempre quando estes detém os escudos representativos mais fortes, como é o vermelho e o laranja em sites como PlayOk e Flyordie, o vermelho e amarelo no Othello Quest e, o vermelho e o preto no Vint ee, sendo que no Othello Quest seja a cor do nickname que muda, não havendo um escudo à frente do mesmo.

Mas, como era de se esperar, não me ative só a esses detalhes, até mesmo porque nem sempre são confiáveis, explico: em sites como o Flyordie, por exemplo, que amo de paixão, é possível se "enriquecer" de pontos jogando apenas com jogadores de baixíssima pontuação, estratégia essa utilizada por poucas e tristes pessoas dentro da plataforma húngara, o que os converte em suprassumos de escudos vermelho no site, sem nem mesmo conhecer alguma estratégia básica ou mediana. Então não, esse jamais seria o meu único critério. Então quais foram?

Pensei da seguinte forma; o que encanta ao vermos um bom jogador em prática? Para mim, a primeira seria um jogador que domina bem as aberturas, as opens, sejam elas uma das 89 aberturas pré-catalogadas do jogo ou, alguma oriunda da genialidade daquele jogador. A segunda seria o domínio de meio de jogo, que de fácil não tem absolutamente nada! O meio de jogo, também conhecido como middlegame, é onde acontecem jogadas estratégicas complexas, como a famosa "envenenar discos", a mobilidade, a alimentação opositora, extração, criar acesso e uma série de tsujis (tijusis são as chamadas jogadas excepcionais, muitas vezes fatais ao adversário) na qual a mais famosa é a bendita: stoner trap. O terceiro critério não poderia ser outro se não O temido endgame, que são os 12 movimentos finais (12 casas vazias finais) em que ambos se degladiam em um espaço curto tentando ficar com as últimas peças do tabuleiro, esse momento do jogo é repleto de mistérios, pois é quando acontecem de maneira mais nítidas as hiper-paridades, a paridade, os acessos negados, bem como as swindles (swindle é um truque em que você pode enganar o seu adversário estrategicamente, jogando 2 vezes seguidas em uma região). Já a paridade, ao meu entender é a capacidade ativa de reverter o reverse de peças em uma partida, para assim obter o maior número de peças ao final da mesma. Isso é controverso, uma vez que eu enxergo a palavra "paridade" como um verbo, outros a enxergam como um substantivo, algo inerte. 

A hiper-paridade/hiperregiões e a teoria do número par ao meu modo de entendimento se encaixam muito mais como substantivos, uma vez que acontecem de forma contínua sem que nada as parem, a não ser um zeramento. Ou seja, dominar o endgame exige um conhecimento bem abstrato do jogador.

Porém, resolvi acrescentar critérios "estéticos" nessas observações, que nada mais é do que mesmo para um leigo, a capacidade de encantar enquanto joga. O primeiro (4⁰ no geral), seria a criatividade, existem jogadores que têm um entendimento tão deslocado dos padrões pré-estabelecidos que chega a ser deslumbrante vê-los jogar, seja criando aberturas alternativa, entricando o middlegame de maneira simétrica ou abrindo mão de cantos e bordas no final da partida, em seus endgames encantadores. O segundo (5⁰ no geral) é a constância, que está ligada à capacidade do jogador em manter a média de habilidade no mesmo patamar, sem oscilações drásticas no desempenho, usando aqui o site Flyordie, existem alguns jogadores que em um dia estão com 650 pontos com 10 vitórias seguidas, e dois dias depois estão com 520 pontos com apenas 2 vitórias no dia, isso é uma oscilação drástica, que acaba denunciando que ou o jogador está passando por algum problema particular que o desconsertou retumbantemente, ou, o mais provável, já que isso é quase uma constante, o jogador não é apegado a treinos, aprimoramento, análises e, talvez não seja muito competitivo, o que o leva à uma espécie de "efeito sanfona" técnica.

A oscilação técnica leve e mediana é natural, acontece comigo às vezes, principalmente quando estou preocupado, ocioso ou estressado, mas reparo que mesmo que o meu desempenho caia, ainda consigo manter um bom nível de jogo. O terceiro critério (6⁰ no geral) é a habilidade geral, e isso engloba muita coisa, pois é a somatória de tudo, ou seja, do que o jogador treina, observa, absorve, aprimora, descarta, cria, inova e se adapta, seja jogando contra um adversário de alto nível, ou iniciante (que costuma virar o máximo de peças possíveis, só não abrindo mão dos cantos), geralmente esses jogadores ao perceberem que estão jogando com alguém mais fraco, até mesmo entregam um dos cantos para que a partida seja mais equilibrada, porém quando jogam com alguém muito forte que conhece muitas aberturas, são capazes de mudar levemente, porém de maneira avassaladora, nuances de aberturas conhecidas para confundir o adversário. Esse tipo de jogador geralmente treina muito, analisa muito, e tem muita fluidez no jeito de jogar. O quarto e último critério (7⁰ em geral) é algo que implementei agora, para definir o panorama geral desses jogadores, e está ligado ao que eu acabei de falar acima: fluidez. Que é a capacidade de jogar leve, criando, defendendo e atacando com elegância, com finess, é a capacidade de enxergar a possibilidade de acabar com o jogo em um ataque diagonal na metade da partida e fazer, sem medo de "arriscar" uma vez que tendo a capacidade técnica de enxergar em 3D em sua imaginação a sequência daquela jogada, não há risco algum. Essa dinâmica, rapidez ao jogar, facilidade de sair de quase qualquer situação é o que eu chamo de fluidez.

Bom, como já havia dito, não tem como ser perfeito e nem perto disso nas minhas análises, nem almejo isso.

Apenas espero que seja uma lista ao menos curiosa para quem lê, até mesmo porque ela é uma bela oportunidade de conhecer nomes dos quais muito provavelmente você nunca ouviu falar antes, nomes que para você que jogou a vida toda no Flyordie ou PlayOk soarão estranhos, nomes que raramente pisam ou até mesmo nunca ouviram falar no Othello Quest ou Vint ee, muitos desconhecem que há esse mesmo esporte em tabuleiros, que há federações e associações do jogo ao redor do mundo, ou até sabem, mas preferem o modo online, e isso tem que ser respeitado.

Faço esse exercício, que para mim é bem divertido desde 2011! Não poderia perder essa tradição, não é mesmo?

Algumas observações: há quem sempre diga de nomes que não estariam na lista, que deveria colocar jogador(a) x ou y, mas o que posso garantir a vocês, é que há muito anonimato em sites, muitas das vezes o nome do(a) jogador(a) que você acha que está faltando na lista, na verdade já está aí, porém com nomes diferentes ou nicks anônimos em alguns sites (eu próprio uso nicks desconhecidos em sites, apesar de ter o meu oficial), então por questão de respeito, não revelarei os nicks de todos dessa vez, a não ser no caso do "Samba Brasil" que ninguém sabe quem é. Vou citar o nick "Isadora" lá do site Flyordie, que disseram que faltou nas minhas últimas listas. Turminha, é muito provável que a dona do nick já esteja aí nessa lista, mas como meu papel aqui é apenas listar os nomes reais (dentro do possível) não cabe a mim revelar o disfarce de ninguém, certo? Outro jogador que poderia estar nessa lista seria o Pedro Jorge, sossegadamente entre os 10 melhores, porém ele é português, não brasileiro, diferente do Alfredo Jara, que é chileno mas é naturalizado brasileiro e residente no país há anos.

Então, espero que ninguém se ofenda com essa lista, ela não revela QI de ninguém, não menospreza ninguém, não é o ranking oficial de nenhuma entidade, não tem caráter pétreo (na próxima lista quem estava embaixo poderá estar lá em cima!) e, é unicamente baseada nas observações pessoais de um cara que ama esse jogo, e que joga desde 2004, joga online desde 2006, treina quase todos os dias desde 2009 e que já conquistou alguns títulos por ai, tentei usar esse embasamento para lapidar as joias que temos em mãos.

Que graça teria ter um conhecimento sem poder compartilhá-lo? Sem poder puxar os demais para que possa expressar o seu melhor.

Essas minhas listas deixam muitos jogadores empolgados e gratos, com mais garra para continuar treinando e subindo cada vez mais.

É isso.

Muito Obrigado a Todos!

Boas festas!

Fabrício Silva (editor)

Esquemas de cores de escudo:

Flyordie (Húngria)

Vermelho - Laranja - Amarelo - Azul - Verde - Azul Claro e Cinza.

PlayOk (Polônia) - Vermelho - Laranja - Amarelo - Verde e Azul Claro.

Othello Quest (Japão) - Vermelho - Amarelo - Roxo - Verde e Cinza.

Vint ee (Estônia) - Vermelho - Preto - Azul - Verde e Cinza.

Vamos à lista?

Os melhores jogadores brasileiros de 2004 a 2022.

1⁰ - Adrian Buyo
2⁰ - Guilherme Chyodetto
3⁰ - Dennis Medeiros
4⁰ - Vitor Cid
5⁰ - Anuar Haddad (Salim)
6⁰ - Lucas Cherem
7⁰ - Jun Takemoto
8⁰ - Lucas Cid
9⁰ - Henrique Oliveira
10⁰ - Fernanda Pimentel
11⁰ - Luiz Silveira
12⁰ - Robson (robão)
13⁰ - Paulo Silva
14⁰ - Ricardo Brandão
15⁰ - Adegar Alves
16⁰ - Rose Matsumoto
17⁰ - Elk Franks
18⁰ - Melcks Lima
19⁰ - David Souza
20⁰ - Leonardo Viana
21⁰ - Jefferson C.
22⁰ - Marcos Pires (Kmarão)
23⁰ - Denis Ribeiro
24⁰ - Peter Buchan
25⁰ - Paulino Jr.
26⁰ - Paulo Farina
27⁰ - Rubens Pereira
28⁰ - Suzana Petry
29⁰ - Mitsuru Dairokuno
30⁰ - Luigi Ronsani
31⁰ - Carlos R. Milnitz
32⁰ - Renato Waitman
33⁰ - Fabrício de Jesus
34⁰ - Silvia ABB
35⁰ - Alexandre Rossi
36⁰ - José Lucimério
37⁰ - Paulo Kitada
38⁰ - Daniel Dantas
39⁰ - Humberto Lopes
40⁰ - Eunice Oliveira
41⁰ - Janfrancisco Ramalho
42⁰ - Halan Davys
43⁰ - Guilherme Lisboa
44⁰ - Carlos André
45⁰ - Dinah Godoy
46⁰ - Roberto Iglesias
47⁰ - Laura Fritsch
48⁰ - Thiago Dias
49⁰ - Fabio Orione
50⁰ - Isabella Z.M.
51⁰ - Alexandre Freitas
52⁰ - Gabriel Marden
53⁰ - Evans Fritsch
54⁰ - Moisés Correia
55⁰ - Sidd Pires
56⁰ - Paulo Sartoran
57⁰ - Rodrigo Edelton
58⁰ - Licínio Fernandes
59⁰ - Francisco Lima
60⁰ - Alfredo Jara
61⁰ - "Silva" (Samba Brasil)
62⁰ - Pedro Igor
63⁰ - Vanessa Fabiane
64⁰ - Kauana Teixeira
65⁰ - Rosângela Taranto
66⁰ - Ana Lúcia
67⁰ - Vitor Paié
68⁰ - João Souza
69⁰ - Jesualdo Tubero
70⁰ - Alamir Jr.
71⁰ - Rafael Paié
72⁰ - Ricardo Barros
73⁰ - Martinho Santos
74⁰ - Gilberto Ceorlin

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Sinergia, e a pureza da disseminação






Sinergia obrigatória, é um assa4ssinato da vontade.


Chegamos aqui a mais um final de campeonato online de Othello, o nosso prestigiado Caos Championship, que contou com a participação de 18 jogadores, divididos em quatro países. Mais um campeonato em que pudemos usufruir do melhor que esse jogo nos traz, que é a coisa de poder brincar, não apenas disputar, mas acima de tudo se divertir com esse tão amado jogo do qual somos tão fãs.

Contei com a ajuda e apoio de Paulo Kitada e Adegar Alves para esse esplêndido campeonato.

Todos somos colaboradores do jogo no Brasil, até mesmo nossos amigos estrangeiros que estiveram aqui conosco, gente da Espanha, Argentina e Colômbia, países maravilhosos com pessoas felizes e encantadores como o Brasil, cada um aqui ensinou e aprendeu algo.


O nosso papel e compromisso para a fomentação ainda maior do jogo no Brasil cabe no incentivo, no apoio, na lapidação de nossas jóias nacionais que são toda essa garotada que estão começando agora. Cabe no exemplo que você possa dar, se encaixa nas atitudes que terá.


Participe, tenha voz ativa. Faça seu próprio campeonato online, chame os amigos para jogar, divulgue o jogo nas mídias sociais, Facebook, Whatsapp, Instagram, Telegram, TikTok, Twitch, Twitter, YouTube e etc. Chame os amigos para um passeio, leve o tabuleiro, apresente o jogo a eles e tente jogar em lugares abertos para que mais gente possa ver. Não sinta vergonha se rirem de você, ou se acha que não sabe jogar o suficiente para isso, você tem nas mãos um jogo histórico, você joga um jogo ancestral, sinta orgulho disso.


Não tem tabuleiro? Faça um com papel cartão ou sulfite, as peças com papelão, tampinhas de garrafa ou peças de outros jogos as colando para se tornarem bicolores.


Vá a torneios da Federação Brasileira de Othello, se possível, pois é a entidade oficial do jogo no Brasil, e ela é de todos nós! Apresente o site, as páginas da entidade nas mídias sociais, seja útil ao propósito maior, mas nunca se esqueça que você pode fazer coisas grandiosas por conta própria sem precisar servir à ninguém, nunca negue ajuda, mas jamais deixe que te usem; ou seja: ajude a FBO, mas não dependa dela, pois nem sempre ela terá a força necessária para subsidiar os desejos e necessidades de cada jogador brasileiro. Por assim dizer, "jogue futebol com os amigos, mas não dependa da Fifa ou da CBF para isso".


Não quer divulgar a FBO ou a WOF? Não tem problema, divulgue o jogo. Vá em sites diversos jogar, encontre falantes da língua portuguesa, convide-os aos seus grupos, fale sobre material didático em livro, blogs, vídeos na Internet, disperte nessas pessoas o desejo em aprender mais, mostre-os que esse jogo não é só uma mera diversão online, que pode ser uma ótima maneira de sociabilizar no mundo real, seja em um Club, em um barzinho (se você for de maior) em parques, no intervalo da escola, cursinho ou faculdade, não importa, há como jogar fora da Internet.


Se deparou com jogadores que não curtem tabuleiros, campeonatos ou oficialidades? Crie um "Rei da Mesa" no PlayOk, quem perder cede o lugar ao próximo, isso talvez acenda uma luizinha competitiva na mente dessa pessoa. Ou seja, seja criativo.


Tenha pessoas úteis e leais ao seu lado, não "utilizáveis" pois você não deverá ter pessoas que concordem em tudo com você, tenha em mente que ouvirá críticas, aprenda a ouvi-las e discernir se são coerentes ou maldosas, descarte as más, agradeça as boas mesmo que te firam. É você que deverá sempre dar o exemplo caso engaje em projetos maiores. Aprimore cada boa ideia, racionalize cada uma delas, e valorize quem está ao seu lado, pois é só assim que todos podemos crescer, juntos.


Talvez, e só talvez o nosso jogo seja um jogo que será nichado por décadas, pois sempre foi um jogo de tribos solitárias, de nômades vorazes, mas fazendo cada um a sua parte, o nosso melhor, poderemos sim ainda em vida, vermos que o nome Othello, ou até mesmo Reversi, não são apenas palavras excentricas, que talvez só um erudito em Shakespeare ou língua inglesa aprecie ou entenda, mas que essas duas palavras, tão simplesmente, remetem a uma coisa só, um jogo de peças pretas e brancas em um tabuleiro verde.


Meu muito obrigado a todos.

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Paulo Kitada




Entrevista com:


Paulo Kitada



Introdução: 



Paulo Kitada é um amante dos esportes da mente, começou a jogar xadrez por volta dos 13 anos de idade, e hoje tem se dedicado a ensinar sobre vários jogos de tabuleiro em escolas públicas de Suzano, área metropolitana da grande São Paulo. De 2017 em diante Paulo Kitada vem se dedicando a ensinar nas escolas e disseminar em seu canal no YouTube, sobre nosso tão amado jogo Othello.


OC - Olá Paulo, como conheceu o jogo Othello?


Paulo Kitada - O jogo acabei conhecendo sem querer, pois como possuía um Super Famicon (vídeo game da época) para distração, comprava vários cartuchos de jogos que eram baratos na época, comprei o de othello e foi um dos jogos que mais jogava na época, em 2015 voltei para o Brasil e nem imaginava que já existia uma federação brasileira.


OC - Sei que esteve um tempo morando no Japão, como era para você ter morado no país do jogo, conheceu algum jogador por lá?


Paulo Kitada - Morei no Japão por 20 anos, meu objetivo na época era continuar estudando o xadrez e voltar disputando o paulista, mas, o tempo foi passando e não via mais como prioridade e para não ficar parado, aprendi o shogi (xadrez japonês). O othello na verdade era apenas uma distração e como não me aprofundei no jogo, acabei não me aprimorando e nem conhecendo jogadores e hoje, jogando de forma como aprendiz, posso falar que me arrependo de não ter desenvolvido o jogo no país do sol nascente, momentos da vida, pois moro no país do futebol e não jogo bola...morei no país do othello e também não jogo bem.


OC - Há paralelos da forma como os japoneses tratam o jogo em relação de como o jogo é tratado por brasileiros?


Paulo Kitada - Sim, para você ter uma idéia, jogos como Shogi e Go são transmitidos todos os domingos na tv aberta, todos com transmissões ao vivo, análises de especialistas e comentários. O othello já houve várias e várias matérias em tvs abertas, com os melhores do Japão e mesmo com alunos.


     Qualquer tipo de torneio, principalmente onde as promessas estão presentes, são gravadas e arquivadas pelas emissoras.


     No Japão, esses jogos são difundidos até em vídeo-game, um dos fatores na qual aprendi o Othello.


     Para mim, um dos principais fatores é: os principais do país ensinam, estudam e fortalecem a base e por esse fato, temos entre os top 100 do mundo com vários japoneses dentro desta lista.


     Talvez você me pergunte o porque não temos japoneses entre os tops do xadrez? Porque lá não é difundido o xadrez, pois poucos jogam e acho que por esse motivo, vários se dediquem ao shogi, sendo que essa transição aconteceu comigo.



OC - Você é professor em escola pública e particular em Suzano, aqui em São Paulo, vê algum projeto relacionado ao jogo em Suzano?


Paulo Kitada - Uma pergunta interessante, mas, começamos com alguns obstáculos relacionados a Cidade de Suzano e região.


     a - Tenho que enfrentar primeiro a grande propaganda disseminada no Brasil sobre o xadrez, sendo que temos blogs, matérias na internet, GMs, destaques, torneios de base, torneio de menor porte até de grande porte, etc. Enquanto isso se compararmos somente no Youtube, quantos canais temos sobre o xadrez e quantos temos de Othello?



     b - Pelo que eu saiba, sou o único da região a ter o Othello na grade de aulas. O mais próximo, se não me engano, fica em Guarulhos, diferente do que aconteceu na cidade de Criciúma - SC, onde várias professoras se uniram para difundir o jogo na cidade através de um Clube de Matemática.



     c - Temos um mapa geográfico desfavorável.


Exemplo: Suzano - Guarulhos (sendo que não posso de confirmar se há aulas relacionadas) 40 km


     Suzano - Indaiatuba: 150 km


     Suzano - Monte Mor: 165 km


     Suzano - Criciúma: 940 km


Porque da comparação com essas cidades? Atualmente são os principais polos de base do Othello.



    d - Além do mapa geográfico desfavorável, temos a falta de torneios de base, sendo que, posso realizar torneio municipal, mas, meus alunos estão distantes 30 min sobre veículo motorizado.



     Apesar de estar sozinho na região, não desistirei tão fácil em ensinar e quem sabe ter pelo menos um top 10 brasileiro.



OC - Noto que de dois anos para cá tem se dedicado mais ao jogo, tendo criado até mesmo um canal para transmissão de jogos online ao vivo e participou de projetos como tutor de alunos de Criciúma em Santa Catarina de forma remota, o que pensa ser o ideal para alavancar a divulgação e disseminação do jogo no Brasil?


Paulo Kitada - Poderíamos simplesmente copiar o xadrez, sendo que vários jogadores de Othello, vieram do xadrez (eu também).


     Mas o que é copiar o xadrez? divulgações, vídeos tutoriais (temos apenas um canal), torneios com premiação em dinheiro (sei que não é fácil, mas temos empresas grandes dispostas a investir em educação e esportes).



     História: quem são os grandes jogadores de Othello no Brasil? Só temos os de São Paulo?


     Muitos não sabem que temos excelentes jogadores fora de São Paulo.


     Amazonas, Pará, Pernambuco, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Espírito Santo, etc.


     Sem história, você não tem referência, não tem a quem se espelhar, a quem copiar o estilo e o principal, deixar no esquecimento o que já foi construído.



     Unir forças: um campeonato brasileiro com todos os melhores do Brasil, para mim, faria história, mas nem no online isso é possível, imagina no presencial.



     Mudar a cultura: "eu sei, sou o melhor e o resto que se vire"


     Se não mudarmos esse tipo de pensamento, nunca teremos uma geração forte, mas creio que esse tipo de pensamento, está mais ligado à professores (as) do que especificamente a atletas.



     Lembrando que são apenas pensamentos distantes, pois não depende de mim.



OC - Qual é na sua opinião a maior barreira que o esporte enfrenta atualmente para conseguir angariar novos jogadores e educá-los a atingir um nível de qualidade competitiva?


Paulo Kitada - A maior barreira é quando você fala que joga Othello e vem a clássica pergunta: O que é Othello?


     Por esse motivo já se percebe que o esporte demorará décadas para talvez se tornar conhecido.


     Não temos o mesmo incentivo que o xadrez tem, significa que o xadrez é bom para o desenvolvimento intelectual e concentração dos alunos e porque o Othello também não tem essa fama, pois é um jogo de raciocínio lógico?


Diante disso, não temos o mesmo incentivo que o xadrez tem para se tornar matéria escolar ou mesmo ser integrado na grade de alguma escola, então, mesmo que você consiga adeptos ao esporte, ele nada mais deixará de ser um passatempo, joguinhoou algo a se aprender um pouco mais profundo, pois, nem nos torneios realizados em alguns lugares, a organização não leva a um patamar sério, competitivo e respeitoso.



     Não adianta eu tentar divulgar o esporte na minha cidade, se outros com mais experiência fazem um torneio amador bagunçado.


     Querendo ou não, isso espanta futuros interessados e se você não tem interessados, não tem torneio, se não tem torneio, não se tem competividade e assim entramos em um efeito dominó.



OC- Sei que você não é um adepto da leitura, em um universo em que livros eram tudo que tínhamos para aprender estratégias no Othello, na sua opinião, o que pode ajudar jogadores a atingirem uma maestria além dos livros?


Paulo Kitada - Os tempos mudaram, hoje é mais fácil você encontrar "livros" em pdf, significa, a leitura não entrou em extinção, mas como eu, um cara preguiçoso para ler, fiz adaptações de outros métodos sem ser a leitura.


     Hoje em dia temos o seu próprio canal no Youtube, mas, a base principal dos alunos, são primeiramente seus professores. Somos nós que temos que nos aperfeiçoar antes, ensinar o correto, pois se ensinamos alguma coisa errada o aluno nunca poderá debater esse erro com o professor.



     Mas porque eu falo primeiramente no professor? Como vocês sabem, sou professor aqui em Suzano e com o tempo e jogos, percebi que havia alguma coisa errada com minhas estratégias.


     Depois de vários conselhos e derrotas, demorei cerca de 2 anos para ver que tudo que eu sabia, estava completamente errado.


     Fiz uma reciclagem total e hoje posso te dizer que ensino de uma forma diferente do que foi me passado.



    Temos que ter cuidado com vídeos postados na internet, a principal ferramenta pós livros.



     Resumindo: temos poucas opções na internet em português, mas para quem quer se aprofundar no esporte, temos o canal do Fabrício Silva, fora isso, melhor procurar vídeos de outras federações, como a espanhola, italiana, britânica e a japonesa.



OC - Haveria alguma possibilidade da prefeitura de Suzano implementar o ensino do jogo Othello nas escolas através de algum projeto paralelo assim como é feito lá na cidade de Criciúma em Santa Catarina com os clubes de matemática?


Paulo Kitada - Acredito que não.


Primeiramente sou o único da região.


Segundo, Criciúma uniu forças e pelo que eu saiba, são no mínimo 10 professoras unidas nesse projeto ( creio que passe de 30).


Terceiro, a cultura de lá, é diferente daqui.


Quarto, Suzano não implementa nem o xadrez, imagina othello que quase ninguém conhece aqui.


Quinto, qual cidade de São Paulo se preocupa no desenvolvimento intelectual das crianças?



OC - Você disse que teve que "desaprender" o jogo Othello e reaprendê-lo, e salientou sobre a perniciosidade de materiais do jogo difundidos na Internet com conceitos errados, estratégias irrealistas, você pensa em fazer algo por conta própria para ao menos deixar o material em português disposto na Internet aos iniciantes mais realista para o que será exigido lá fora, no mundo real dos jogadores intermediários e de alto nível de Othello?



Paulo Kitada - Não....motivo: não tenho conhecimento tão profundo do jogo, e mesmo que se eu quisesse, já tem o canal no youtube do Fabrício Silva, onde há vários vídeos, desde principiantes para os mais experientes, então, para meus alunos prefiro recomendar o canal dele e fazer o ensinamento básico e também não vejo motivo para se ter 2 canais em português com os mesmos ensinamentos, pois muitas estratégias aprendi lá.



OC - O que você acha que falta para que os grandes jogadores de Othello no Brasil tenham interesse em participar de eventos, seja online ou presencial, seja oficial ou extraoficial?


Paulo Kitada - Premiação em dinheiro.


Você é obrigado a viajar para certos lugares e saberá que não haverá compensação financeira, então, vou se der, se estiver com tempo, se estiver com vontade e se terei grana para a viagem.


A maioria irá por amor ao jogo, pela disputa e fora isso, você terá apenas uma medalha no peito e talvez nem divulgação terá.



OC - Agora mudando um pouco de assunto, como bem explanado por você, no seu caso sua origem nos jogos mentais foi no xadrez,  depois shogi, apesar de já conhecer o Othello desde a época em que morava no Japão, foi só agora que se dedicou um pouco mais ao jogo; você sente que a base de cálculo exigido nesses outros jogos é similar ao Othello ou o jogo Othello é mais fácil mesmo de dominar?



Paulo Kitada - Pergunta difícil....rs....bom, eu não chamo de "base de cálculo", mas sim, "visão espacial", só que alguns falarão que é a mesma coisa.


Pra mim não é, se você não tem visão espacial, automaticamente sua base de cálculos é limitada, porém, todos os jogos entram em padrões de jogo, mesmo você achando um padrão parecido que requer 4 lances para definição, como achar esses lances se sua visão espacial é limitada a 2 lances?



Teoricamente o Othello é mais simples de se jogar, mas creio que exige uma visão espacial que não pode ser limitada a 2 ou 3 lances.



Se pensar dessa maneira, eu já seria mestre em Damas, pois se usa somente a metade do tabuleiro.




OC - Agora fique mais à vontade ainda para colocar toda a sua visão do que acha que será o Othello no Brasil e de como você se vê fazendo (ou se se vê) disso tudo no futuro.


Paulo Kitada - Se unirmos forças hoje para desenvolver o Othello no Brasil, para futuramente poder ser competitivo mundialmente, creio que levará uma década.



Porque do pessimismo? simples, somos amadores e mundialmente há um jogador brasileiro temido por outros competidores?


Somos o país do futebol, do vôlei e alguns na água (natação em geral).



Em esportes da mente, temos somente o Mequinho da década de 70.