Olá a todos, tudo bem com vocês reversianos?
Vamos falar de um assunto que provavelmente dará pano pra manga? Afinal, que
história é essa de Reversi chinês e, qual a origem dessa lenda sem pé nem
cabeça que alguns sites propagam por ai? Se segurem nas cadeiras e vamos lá!
Pois bem meus amigos e amigas, já venho notado há um tempo, incansáveis sites
propagando em suas repartições publicitárias ou explanativas, textos que fazem
uma alusão a uma possível origem chinesa ao jogo Reversi, que peremptoriamente
propagam as mesmas explicações infundadas de que: “Reversi é um jogo cuja
história ninguém sabe ao certo, e que alguns acreditam que foi criado em
Londres por John W. Mollett ou por Lewis
Waterman no século 19, e outros creem que foi criado na China com o nome "Fan
Mian”, tais sites disseminam as duas hipóteses com pé de igualdade como se de
fatos fossem antagônicas e igualmente aceitas pela comunidade Internacional de
jogadores e estudiosos da história do jogo, o que me fez elaborar a seguinte
questão: Será mesmo que o estranho jogo Fan Mian foi realmente o predecessor do
jogo Reversi na antiga Londres, ou terá sido isso uma invenção que através de
boatos se propagou como um contágio e se alastrou por inúmeros sites ao redor do mundo?
Venha comigo e, vamos ver o que descobrimos sobre essa história, (ou seria
“estória”?) em torno do lendário Reversi Chinês...
Fan Mian
Estava eu a navegar pela web tentando conhecer o vovô chinês do Reversi, diziam
Fan Mian ser o nome desse belo e notório ancião de importantes dinastias
chinesas e, ansioso eu estava para poder vê-lo, tamanha foi a minha surpresa ao
descobrir que o velho chinês não era lá muito fã de fotografias, ao ponto de
nenhum artefato fotográfico ou pincelada artística terem engarrafado um vívido
e límpido retrato deste senhor reversiano... Fiquei encabulado, eu confesso,
mas não sou de desistir assim tão fácil e, prossegui afinco na busca, quase
arqueológica, dentre todos os fragmentos empoeirados das vastas dinastias no
encalço do famigerado “Fan Mian” o tal jogo que alguém, de talvez suma
importância, atribuiu valor inegável, na base do que viria a ser, o Reversi
londrino. Céus e céus, não encontrei nada além de ctrl+c e ctrl+v... Apenas
cópia e cola, tanto em inglês quanto em português, de uma tal ascendência
reversiana provinda de um tal jogo chinês chamado “Fan Mian”... Mas, o dito
cujo, não vi e não consegui traçar nenhuma linha direta entre quaisquer jogo
chinês com o Reversi, a não ser aquela pífia explicação da associação japonesa
de Othello onde correlacionam a base do Othello de Goro Hasegawa ao GO, coisa
da qual todos já estão carecas de saber, se tratar possivelmente de um desvio
documental. Em minhas pesquisas, e com a
ajuda de um amigo que logo, logo citarei aí abaixo, notei que a ideia de um
jogo chinês, com características similares ao jogo londrino e, consequentemente
ao nosso Othello, germinou de um livro lançado em 1954, por E.O. Harbin
(pseudônimo?) chamado: “Games of Many Nations” onde, dentre provavelmente muitas
menções, ele citou um jogo chinês que devia lembrar o Reversi londrino em seu
aspecto estrutural e estratégico, e só. Infelizmente esse livro é de difícil
acesso para nós brasileiros, eu pessoalmente gostaria muito de saber de onde
Harbin tirou estes enunciados, gostaria de saber e estudar suas premissas, mas
o que tenho e o que me chega em pesquisas tanto em inglês, português e chinês
são fragmentos de tudo que conseguiram enxugar de sua obra lúdica e, que
frustantemente não explana absolutamente nada sobre suas conclusões deveras
excêntricas sobre a origem do jogo Reversi, prerrogativas quase que
“religiosas” por parte de propagadores irracionais da ideia do Reversi chinês.
Acredito que Harbin por si só não teve um papel tão decisivo na disseminação da
ideia, e sim alguns de seus leitores que detinham algum conhecimento sobre o
jogo londrino ou da recém invenção patenteada de Hasegawa, o Othello; e que em
um frenesi de deslumbramento contagiante, propagaram que o jogo Reversi se
equivalia aos jogos mais tradicionais já conhecido, como GO, Xadrez ou Mancala,
e que o colocando como um sobrevivente milenar chinês, ganharia suma
importância frente aos concorrentes do mundo contemporâneo, seria muitíssimo
legal, se não fosse uma possível mentira. Não há correlação alguma de jogo
chinês com Reversi inglês e, cansado de procurar e não achar absolutamente
nada, pedi a ajuda de um amigo que também tem um certo tato para pesquisas,
Alfredo Jara, editor do blog “Othello No Brasil” e tradutor do livro: “A minute
to learn... A lifetime to master” de Brian Rose, e fiquei surpreso quando o
mesmo descobriu por exemplo que o nome “Fan Mian” é o nome de uma cidade ao sul
da China, seria possível que Harbin (se é que ele foi para lá ‘algum dia e
ainda por cima’ durante as décadas de 1940 e 1950 em plena Revolução Chinesa,
conjecturou) viu um jogo similar ao Reversi nessa região e a priori concluiu
que devesse ser “vô” do mesmo? O mais estranho foi a descoberta de que “Fan
Mian” em tradução livre para o português significa: “Do outro lado” ou algo
similar a isso, que remete a ideia de “dois lados”, binarismo, antagonismo ou
algo de sentidos contrário, ideia que lembra a dinâmica do jogo Reversi
realmente. Estranhamente eu já havia descoberto, ao pesquisar sobre quem de
fato foi E.O. Harbin, que “Harbin” na verdade, é também o nome de uma cidade ao
norte da China, onde é comemorado um festival na cidade de gelo, que é como a
cidade fica de dezembro a fevereiro durante esse festival, (nem mencionei o
fato de uma cidade ficar ao norte e outra ao sul, “binarismo”?). Sobre o tal
Harbin, o amigo Alfredo Jara descobriu e me enviou um link, onde detalhava
algumas informações sobre o mesmo, e dentre essas informações, pude ver que ele
escreveu outros livros, tais como: “Nova Enciclopédia da Diversão (1985),
Diversão e jogos antiquados (1978) FUNOLOGIA: 1.000 Jogos e planos de
entretenimento (1951) dentre outros” e descobri que ele fazia parte do conselho
de educação da Igreja Metodista, e nada mais além de uns ensaios de filosofia é
possível obter desse anônimo e estranho escritor. A verdade é: Enquanto há uma
miríade de evidências, pormenorizadas traçando possíveis elos entre o Reversi
londrino e o Othello atual, com documentos, livros e jornais, já com seja lá o
que Harbin aborda em seu livro, não há uma só prova esticada para páginas de
Internet que pudessem ser analisadas por especialistas em jogos de tabuleiros,
não há nem sequer uma imagem digna do que seria esse tal jogo chinês chamado
“Fan Mian”, não há outros autores falando do jogo e, por fim, não há nenhum
órgão oficial do jogo Othello que mencione “Fan Mian” como sendo precursor do
Othello atual. Não estou aqui dizendo que tudo que órgãos oficiais dizem deva
ser crível tão somente pela égide da “autoridade”, pois há muitos veículos por
ai, oficiais, que falam absurdos tamanhos em quase todos os assuntos da
sociedade humana, mas quando todos os órgãos oficiais, com bases concretas,
dizem a mesma coisa, é um bom sinal de que aquele possivelmente seja o caminho correto,
apenas nos cabendo averiguar se de fato é.
Rota da Seda
Sabemos de toda a importância dessa antiga rota no comércio e formação de
grandes civilizações no passado, tal como a egípcia, mesopotâmia, indiana e
obviamente a própria chinesa, que se fazia valer guardando o segredo a sete
chaves da receita de fabricação da seda, produto esse que nomeou a rota. Como
também foi de suma importância no transporte e distribuição de animais
domésticos, porcelanas, artefatos culturais, invenções das mais variadas ,
alimentos exóticos e etc. E até mesmo de traços culturais, linguísticos e
religiosos que migraram de povos para
povos durante anos de existência da rota. Essa rota não só importou seda, como
também não somente se limitou à terra firme, as suas rotas marítimas com o
domínio das técnicas de navegação, tiveram real importância ao longo do tempo
na influência cultural de todas as regiões e culturas daquela época.
Então, teria algum jogo com dinâmica reversiana atravessado essa rota da China
à Antioquia, posteriormente Pérsia e depois Europa? Ou costa marítima indiana,
árabe, Mar Mediterrâneo e Europa? Quem sabe? Porém não irei discorrer sobre
esse assunto por ser bastante complicado e exigir maior especialidade na área,
o que posso dizer é que não achei nada que me levasse a crer na teoria de
Harbin. Outro fato é de que, se o único critério que Harbin usou para concluir
que um jogo era parente de outro foi somente sua similaridade, isso acaba numa
loucura interpretativa da qual cada um, a seu bel-prazer, poderia rotular como
primos, qualquer jogo com regras e estilos parecidos, mesmo que distantes
geograficamente e no tempo, como por exemplo o jogo “Latrúnculo” que em um
lance rápido de olhar, qualquer ser humano que conheça o jogo Reversi, diria se
tratar do mesmo jogo... E não poderia ser diferente, tabuleiro 8X8 e peças
pretas com brancas ou vermelhas, o problema é que esse é um jogo com regras
diferentes e tão antigo que era jogado no Império Romano e até mesmo antes
disso, na Grécia antiga. O tabuleiro que Mollett criou e, que posteriormente
Waterman sofisticou, era em formato de cruz, pois bem, que tal dizer que
Mollett se baseou num jogo chamado “Patolli”? Nada mal, já que este também era
um jogo em formato de cruz, o problema estaria no fato de que este era um jogo
com regras e dinâmicas muito diferentes do Reversi de Mollett e, que
fatidicamente era jogado por povos da Mesoamérica, de nobres Astecas à Maias,
este era um jogo muito popular naquela época, desde 200 AC à 1521 DC. Ainda na
região asiática, teríamos o “Ming Mang”, originário do Tibete, que detém um
tabuleiro parecido com o jogado em Reversi, (também na antiguidade foi jogado
em tabuleiros de GO 17x17 e/ou 19x19, dependendo da época) e modos de capturas
de peças que ligeiramente lembram um pouco o jogo Reversi, tanto quanto o
próprio GO o lembra, jogos de regras parecidas, mas sem vínculo direto. Como
veem, não da para somente correlacionar jogos pela suas similaridades
anatômicas e até mesmo estratégicas. Acredito que determinar criações (e também
seres vivos) como próximas tão somente pelo critério anatômico, é tão errôneo
que levar-nos-ia a conclusões risíveis, como dizer por exemplo que a Pirâmide
de Tenochtitlán da civilização asteca, que foi construída em 1375, teve como
base e influência as pirâmides egípcias de 4.000 mil anos atrás, como a
pirâmide de Gizé por exemplo - a não ser que você acredite no que o cômico
livro “Eram os Deuses Astronautas?” de Erich von Däniken diz a respeito disso,
com alienígenas ditando as regras e toda a fantasiosa ideia. A lógica (construir
amplo embaixo e mais cônico acima, para sustentar o peso) e a laboriosidade
tanto quanto a engenhosidade humana explicam melhor essa questão do que
suposições fantasiosas, ainda citando outro exemplo agora dentro da zoologia,
seria o mesmo que dizer que morcegos são pássaros somente porque têm asas e
quase sempre têm o mesmo tamanho, não é assim que taxonomia de animais
funciona, correto? A não ser que você esteja amplamente desatualizado nessa
questão. Voltando ao assunto principal, temos jogos nascidos do Reversi vivos
hoje em dia, poderia falar alguns, mas vou me abster somente em dois, o
primeiro é o “Biversi” de Bill Taylor, jogo esse jogado em um tabuleiro de 9X9,
onde dois grupos de peças pretas e brancas (um na esquerda superior e outro na
direita inferior) dispõem-se nas intersecções dos cruzamentos das linhas em
verticais e horizontais (assim como no GO), jogo de regras similares ao Reversi
e de conexão direta com o jogo Reversi. Já o outro jogo é o “Revertello” de Fred
Horn (jogo de 2004) é jogado em um tabuleiro hexagonal, com três peças brancas
e pretas dispostas já no início da partida, no centro do tabuleiro. Os dois
jogos citados, quanto outros dos quais não mencionei, tem parentesco direto com
o jogo Reversi, o fator histórico e documental sempre vem em primeiro lugar em
qualquer julgamento dessa natureza, mas sendo o mais preciso possível, qual é
exatamente o elo decisivo que une o Reversi londrino ao Othello atual? Quer
minha opinião sincera sobre essa correlação? Então lá vai, a base de criação do
Othello atual, teve estímulo no Reversi londrino, porém eu estaria mentido se
dissesse que isso é uma verdade inquebrável, pois devido ao grande hiato secular
entre as duas criações, fica difícil traçar um paralelo irrefutável e
intrínseco entre os dois jogos, sem contar a resistência cultural japonesa em
dar alusão a tudo que venha de fora do Japão, falo isso pois até mesmo a
Associação Japonesa de Othello nem sequer menciona em seu site oficial a
história bem documentada do Reversi londrino, eles preferem encaixar a
iluminação da criação do Othello, ao jogo GO. E então você me pergunta: Mas o
GO é um jogo chinês, correto? Sim, mas foi levado ao Japão muito séculos antes
e meio que se incorporou à cultura local e ficou indissociável dos campos
japoneses, tanto quanto o jogo Dominó (que também é de origem chinesa) se
incorporou à cultura brasileira dos tiozinhos no bar jogando e bebendo, isso
era mais popular antigamente aqui no Brasil, confesso, mas ainda é tangível
como sendo algo peculiar à nossa cultura, e até mesmo a cultura latino
americana em geral. Talvez por isso, foi mais fácil à associação japonesa de
Othello intricar “Othello + GO” era como estar falando de jogos inventados no
mesmo país, o Japão, e olha que ainda faltavam muitos anos para que Yumi Hotta
criasse um dos mais premiados Animes da história, o “Hikaru no GO” que foi uma
sensação no Japão, elevando a popularidade do GO a um patamar quase sem
precedentes na história! Voltando ao assunto do hiper tradicionalismo japonês, ouvi
um especialista em história japonesa dizer que um dos fatores do islamismo que
varre a Europa, chamando e conseguindo cada vez mais adeptos em todos os países
europeus, não fazia nem sequer um mero arranhão dentre os japoneses, devido ao
fato de a cultura japonesa ser extremamente tradicionalista e resistente meio
que naturalmente a tudo que é de fora do Japão, sejam religiões, estilos,
opiniões e modos de vida, para o japonês médio, só existe japonês e não
japonês, existe até mesmo uma palavra para isso “Gaijin” que não significa
apenas estrangeiro, mas também “Não-Japonês”, no clássico livro de ficção
científica do escritor William Gibson, essa palavra e descrita como sendo de
teor pejorativo. Vi certa vez em um
vídeo de uma coreana que fala português (“Coreaníssima” é o nome do seu canal)
onde a mesma explicava que o Japão jamais assumiu oficialmente os crimes de
guerra que cometeram durante as invasões aos territórios coreanos como tortura
e estupros. Acredito que esse seja um traço cultural japonês, obviamente sem
generalizar, mas os japoneses em geral têm uma certa dificuldade em assumir
qualquer coisa que coloque o Japão em segundo plano, até mesmo filhos de coreanos
nascidos no Japão, que falam e se comportam como japonês, são tidos como
“não-japonês” pelos japoneses, a coisa fica mais flexível em questões mais
light como cultura pop, motivo do qual febres musicais orientais atuais, como
são as chamadas “k-pop” (de origem coreana), fazem um estrondoso sucesso dentre
os jovens japoneses, talvez por se semelharem às “J-pop” que são de origem
japonesa, o fato é, volto a dizer, que em geral a cultura japonesa como um todo
é tradicionalista e resistente e, isso é quase imutável, talvez por isso a
associação japonesa de Othello nunca tenha assumido influência londrina na
criação de seu jogo, e tão pouco assumiria em relação ao fantasioso “Fan Mian”,
se essa resistência não existisse, saberíamos de fato, de onde Hasegawa retirou
a ideia para sua criação, mas, mesmo sem essa confirmação em 100%, (e sim 97%,
os 3% restantes seriam caso Hasegawa tivesse tido a mesma ideia dos londrinos
já que é um jogo de dinâmica e regras simples) não significa que investigações
da história do jogo, não tenham apontado como “quase” certo de que o Reversi
londrino foi o precursor do Othello atual O JOGO É EXATAMENTE O MESMO, apenas
mudando detalhes de regras, como a que diz que (ao contrário do Othello), as
quatro peças iniciais não eram fixadas de início e sim colocadas avulso pelos
jogadores e, regras sobre o “passe”, do qual determinava o final da partida até
mesmo o nome do jogo é de uma peça teatral do inglês William Shaskepeare
“Othello, o Mouro de Veneza” e o próprio pai de Goro Hasegawa era um estudioso
da cultura inglesa e; de forma alguma podemos imputar teorias menos críveis no
lugar de “teorias” mais bem documentadas, que é o caso acima. Não há motivos
para colocarmos uma história 10% crível sobreposta a uma de 97% de indicativos.
No decorrer da história humana, sempre houve mitos e todo tipo de histórias
incríveis, algumas caem no vale da fantasia, outras no possível e, outras viram
até mesmo religiões e seitas, o conhecimento e estudos dessas histórias, bem
como a análise minuciosa, discriminam cada uma a seu devido lugar no cronograma
como foi no caso do santo sudário, que descobriram ser falso depois dos testes de
carbono-14. De forma mítica, tentaram imputar uma identidade messiânica à
Tiradentes, o pincelando como um homem de cabelos e barbas longas, como na
imagem mais tradicional de Jesus Cristo, na tentativa de endeusar um símbolo
tão corajoso e nacional quanto aquele (tínhamos que criar uma imagem brasileira
frente à portuguesa, uma identidade própria) coisa da qual é amplamente
contestada, uma vez que a opinião de especialistas diz exatamente o contrário,
que ele morreu careca e sem barbas, devido a procedimentos pré-executório. Ou
seja, sempre “forçam a barra” um pouquinho para vender o peixe... E nos jogos
orientais, há lendas? Sim, primeiramente tenho que contar sobre o Manual de GO
chamado: “Sun Ce e Lu Fan jogando GO”, manual esse descrito como o mais antigo
manual desse jogo de todos os tempos, praticamente esse manual mostra esses
dois lendários personagens jogando GO. Sun, era o irmão mais velho de Sun Quan,
um antigo rei do reino de Wu, e Lu era seu conselheiro chefe, resumidamente Lu
ajudou Sun a reverter a falta de dinheiro, tropas e grãos do qual padecia, na
história diz que o mesmo seguindo o conselho de Lu, entregou seu selo imperial
para Yuan Shu em troca de 3000 tropas, conseguindo resolver o embaraço e
obtendo êxito militar, e diz a lenda que Sun e Lu jogaram GO para afiar táticas
militares de dominação, assim planejando maiores empreitadas. Bom, por mais que
todos esses personagens tenham sido verdadeiros e importantes na história
chinesa, (assim como Tiradentes também foi ao Brasil), essa parte da história
envolvendo o jogo GO, não. Arqueólogos descobriram em escavações um tabuleiro
de GO que mostrava um tabuleiro diferente do mostrado no manual, pois naquela
época, provavelmente durante a Dinastia Han, o GO era jogado ainda em 17x17
casas, enquanto que a descrição do manual mostravam 19x19 casas, invenção
posterior à essa dinastia, provavelmente inventaram para dar um quê de importância
magistral ao manual, mesmo que de qualquer forma esse manual ainda continua a
ser o mais antigo do jogo em todo o mundo. Outra história interessante
envolvendo o jogo Go, é a lenda de Lanke, que conta a história de um garoto
chamado Wang Zhi, pertencente a Dinastia Jin, que estava cortando madeira numa
montanha, e notou que haviam dois imortais jogando GO e, então parou para
assisti-los jogar, de certo ficou tão interessado naquele jogo que se esqueceu
do tempo, assim que a partida acabou e os imortais se foram, ele se virou para
pegar o seu machado para que pudesse prosseguir contando madeira e, ficou
intrigado ao ver que o machado estava totalmente enferrujado e sem cabo,
assustado voltou para casa e não encontrou nenhum parente seu e, para seu
terror, descobrira que o máximo que as pessoas na região sabiam, era que havia
uma história que falava de um garoto que um dia saiu para cortar madeira na
montanha e nunca mais voltou. Foi ai que
ele percebera que ao assistir os imortais jogando GO, ele próprio tinha ficado
preso num tempo próprio, como os imortais. Todas essas histórias nos servem
como base e alicerce para construir um raciocínio, e chegar a uma verdade inegável,
a de que o ser humano tem uma certa tendência ao deslumbramento mágico, faz
parte da nossa mente o poder da criação, dos lampejos de criatividade que
circundam toda a nossa psique, que se bem aplicada resultam em todos os tipos
de artes humanas, pinturas, arquiteturas, música, cinema, dança, literatura, poesia e,
etc. Porém, má usada e, quando há uma possibilidade de enfeitar uma ideia para
que ela pareça ser mais atraente e durável frente as outras, a criatividade a
dispor da mentira, vira a receita do mal, mas desde que sirva a um propósito
maior, a mentira em si vira um mero e insignificante detalhe. Talvez a palavra
“mentira” em si ganhou um peso diferente em nossa época, o “Zeitgeist” é sutil
e mutável , e nos faz perceber de nuances diferentes e com um observar crítico
coisas das quais achamos no mínimo antiéticas, mas que na época era apenas o
mudus operandi daquela população, ainda hoje em dia existem por exemplo, sites
de criação de notícias falsas, coisa da qual gera muita receita de lucro
através de cliques e cliques para os administradores dessas plataformas,o ser
humano se sente mais atraído por notícias e coisas das quais os tirem do
cotidiano, os arranque da monotonia, mesmo que isso seja falso. Querem algo que
lhe deem uma mescla de sensações prodigiosa, esperta e antenada frente aos
pobres “desinformados” que ainda acreditam, por exemplo, que vivem num planeta
oval. Inúmeras teorias da conspiração
inundam imaginário coletivo, vai desde “Elvis não morreu” até terraplanistas,
sem contar os poderosos Iluminatis que dizem ser donos dos Estados Unidos e até
do bar do seu Zezinho na esquina.
E então, voltando ao tema principal dessa postagem, conhecendo a tendência
humana para invenções de patuscadas, será mesmo que na China antiga, sem provas
concretas e verificáveis, se baseando apenas no que um autor que não quis se
identificar escreveu em um livro de mais de meio século atrás, é possível dizer
que sua proposta do Reversi chinês ser o predecessor do Reversi londrino e,
consequentemente do nosso Othello atual é verdadeira?
Acredito firmemente que se você, leitor desse blog, for uma pessoa com um nível
de ceticismo balanceado, saberá da resposta na ponta da língua, que será a
mesma que a minha, um sucinto não. Mas, caso você leitor desse blog, por algum
motivo conjecturou possibilidades das quais eu não me atentei e, acredita sim
numa origem chinesa para esse jogo, sinta-se à vontade para comentar logo
abaixo nos comentários e, (sem ironia
alguma) informar as fontes para que eu possa colocar um adendo com tais fontes,
além dos agradecimentos.
Mas, por hora a minha opinião é a de que Fan Mian, o famigerado tal Reversi
chinês, é uma mentira, uma criação equivocada de um escritor anônimo durante a
década de 1950 e, decair nesse conto, é forçar a barra e jogar toda a incrível
e bem documentada história que fez do nosso jogo, tudo aquilo que ele é hoje.
Meu muito obrigado, e até mais.
Algumas fontes e complementos de leitura:
Di.fc.ul. (um dos sites que criticam a história chinesa do
Reversi)
Amazon (livro do Harbin: Game of Many Nations)
https://www.amazon.com/Games-Many-Nations-Harbin/dp/B0000CJ13V
Agradecimentos
Alfredo Jara
Link para o seu blog: http://othellobrasil.weebly.com/