quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Qual é o perfil dos jogadores brasileiros?





O Nirvana

Quais os tipos de jogadores que há no Brasil?

Olá pessoal, nessa postagem eu vou tratar de um tema que estava à pensar hoje na garagem de casa, olhando a paisagem lá embaixo de ruas e casas em um dia como outro qualquer, mas que foi o cenário propício para me assaltar as seguintes perguntas: Será que todos aquelas pessoas que aparecem eventualmente comentando as impressões que tiveram sobre determinados aplicativos de Reversi lá na Google Play (PlayStore) são de fato jogadores assíduos do jogo que estão rondando de maneira totalmente anônima por ai?

Cheguei a conclusão de que não poderiam ser, pois da mesma forma como eventualmente baixamos joguinhos em nossos celulares que de imediato nos divertem e entretém para, depois sem mais nem menos abandonarmos e esquecermos até que existem instalados em nossos aparelhos, boa parte desses jogadores são apenas transeuntes curiosos que ali pararam para “experimentar” mais um prato daquele cardápio, somente por um prazer momentâneo para assim logo depois se satisfazer com algum outro prato atrativo na lista de sabores daquela página. Claro, nem todos ali são partes desse time, não representam esse quadro, são jogadores assíduos e praticantes natos do jogo, mas são muito provavelmente uma minoria.
O fato de eu achar, sim... apenas acho já que não fiz nenhuma pesquisa 100% acurada sobre a temática proposta, é devido ao fato de que não há muitos jogadores de Reversi no Brasil, ao menos depois de jogar e trocar ideia com as pessoas por 13 anos seguidos é de que o nosso nicho é muito pequeno, nenhuma empresa com pretensões ambiciosas irá lucrar valores astronômicos com a venda de tabuleiros do jogo por aqui, o diga a empresa Grow em 1980 e depois em 2004. A demanda no país é modesta, então a aposta também é modesta em todos os quesitos, o que faz empresas comercializarem o jogo sim aqui no país, mas destinadas à um público seleto, com lucros pequenos se comparado à venda de grandes jogos consagrados nacionalmente ou mundialmente. Isso poderá mudar? Claro, espero. Mas isso será em um futuro, estou falando do dia de hoje, do agora. Mas, sem mais delongas, voltando ao assunto principal, vamos considerar os jogadores fortuitos que aparecem em chats de apps como pertencente à uma categoria de jogadores, a categoria 1. Bora lá falar delas e das outras categorias.

Antes, um adendo aqui.

Não há uma regra de escala nessas categorias, algumas pessoas, ou várias, podem alternar de maneira anacrônica a ordem desta, ou até mesmo pular uma, duas, três ou mais categorias e se fixarem em apenas uma delas, ou dali até convergir à outra abaixo ou acima na escala, então ela é líquida, flexível e o único caráter que empreguei a essa lista, nessa ordem, é a de dar sentido a um fluxo coerente com boa parte das pessoas com as quais eu conversei que me relataram trechos organizados dessa maneira que apresento aqui, inclusive boa parte parece com processos dos quais eu passei também. E claramente não tenho a intenção de colocar qualquer juízo de valor absoluto nas decisões alheias, me restringindo ao direito de qualificar apenas as características produtivas de uma maneira ampla dentro de um cenário maior de cada categoria de jogadores, entendendo que individualmente cada um é dono de si e tem suas opiniões, não tendo obrigações de estar em um estágio ou em outro. Compreendido? Então agora sim, vamos lá.


Categoria 1, Curiosos e Nostálgicos.


Nessa categoria entram os transeuntes de navegação, muitos deles a fim de achar algum bom jogo para passar o tempo, outros procurando jogos que remetem à infância ou adolescência, ou bons tempos passados que não voltam mais e, nessa se deparam com uma novidade ou com o já conhecido jogo: Reversi. Estes jogam o jogo, gostam, ou matam a saudade, jogam de novo e de novo, comentam o que acharam, e vão embora e o jogo é esquecido por aqueles que só o conheceram agora, ou deixado de lado novamente por aqueles que já conheciam o jogo, mas que só queriam matar a saudade mesmo. Porém, alguns já jogavam em sites, ou progrediram para os mesmos, que é o que veremos à seguir.


Categoria 2, Os Adeptos ao Site

Nessa categoria encontramos uma infinidade de jogadores, a impressão que se tem é que o Brasil está ali de maneira maciça de alguma forma, (no caso de jogadores aqui do Brasil) ao menos na minha época vi muitas pessoas falando em português no site, e conversaram comigo, e se apresentaram e até me deram algumas dicas de como jogar depois de um tempo, nessa fase é como se você tivesse descoberto o mundo! Pois, é a fase onde descobrimos que aquele joguinho das pecinhas pretas e brancas só não está enfurnado ali dentro de um aparelhinho celular offline, pois você descobre a interação. Na minha época o jogo estava dentro de um celular antigo da LG, era jogado offline e já fui apresentado com seu nome comercial, o Othello. Muitos jogadores param por ai, não se interessam em pesquisar ou ir além disso, (lógico que não são obrigados a conhecerem, cada um cada um) logo não conhecem nem mesmo que há versões em tabuleiro do jogo, e que no Brasil e no mundo há federações e associações  que são os órgãos que representam, disseminam e organizam competições do jogo mundo à fora aqui no Brasil é a Federação Brasileira de Othello. Mas há aqueles, que igual a mim, foram adiante.


Categoria 3, Os Integrantes

Nessa categoria, alguns entendem a importância de pertencer a um grupo de jogadores e ser mais ativo por procurar informações ou aprender o jogo. Essa é a fase que antigamente levavam alguns a irem a grupos no Orkut, e hoje no Facebook, Whatsapp e canais especializados do jogo no Youtube. É a fase da potencialização e interação, pois a pessoa não acha mais satisfatório jogar offline e online com outras pessoas sem a interação informacional, ela quer interagir. É nessa fase que desperta em alguns o desejo da “oficialidade” e da “disseminação”, (e também o desejo de ter um tabuleiro do jogo) muitas das vezes, se não a maioria esmagadora das vezes, que é a categoria 3 que forma os jogadores da categoria 4, que veremos à seguir.

Categoria 4, A Oficialidade e Realidade (O Oficial)

É nessa categoria que a pessoa não quer só mais jogar offline ou online, ela que jogar em um tabuleiro, participar de uma competição real. Não que jogar online não seja real, mas estar ali presente com outros jogadores no mano a mano da um toque especial a coisa, então alguns vão a campeonatos promovidos por órgãos oficiais ou em encontros casuais para jogar com os amigos. Algumas vezes é aqui, ora é na categoria 3, que nasce outro aspecto muito importante no meio, a aura do disseminador.


Categoria 5, O Disseminador

Nesse estágio alguns jogadores não se sustentam ou se alegram em apenas serem bons jogadores e de já terem participado de competições oficiais ou encontros extraoficiais, eles querem fazer mais pelo jogo, seja por método de ensino, seja por paixão ao esporte. Nessa fase alguns divulgam em escola, lutam por estabelecer o jogo na grade de ensino, conversam com políticos para promoverem o jogo, negociam com empresas privadas (corporações), levam tabuleiros à Sescs ou clubes. Outros divulgam pela Internet, criando grupos, páginas, blogs, sites para jogar o jogo em si, canal no Youtube ou apps. É uma fase e categoria de jogadores muito importante à sobrevivência da modalidade no país (claro que nem todos que criam apps ou simplesmente codificam o jogo são jogadores em si, às vezes é só um exercício de trabalho de faculdade, mas me refiro aos que fazem por já serem jogadores).

Categoria 6, A Essência

Essa é a fase onde o jogador já fez de tudo, já conheceu os apps, sites, páginas, blogs, canais, já participou de competições em tabuleiro oficiais e extraoficiais, já divulgou ao seu modo e mesmo assim ainda quer e acha que pode fazer mais pelo jogo. É aqui onde muitos continuam divulgando e inventando métodos para atrair mais gente e maneiras de divulgar e ensinar a mais gente sobre o jogo, e de estimulá-los a fazer o mesmo. É um estágio onde a essência da pessoa já está ligada ao jogo, seu modo de ver o mundo já tem o jogo incluso de alguma forma. Às vezes é uma fase frustrante, mas se persistente pode trazer mais frutos, pois é nessa fase onde nascem os jogadores que “criam” os disseminadores, é uma fase encantadora.

Categoria 7, O Nirvana

Ainda não conheço algum jogador que tenha chegado a essa fase, nem aqui no Brasil nem em outro lugar do mundo, pois ela é quase irrealista, será quase uma religião para quem a atingir. É uma fase onde o jogo e a pessoa viram o mesmo conceito abstrato, onde um é o outro em si. Como isso? A pessoa não se anima mais em divulgar pela Internet ou em instituições governamentais ou corporativas, ela passa a ser ela mesma a instituição, a Internet e o disseminador ao mesmo tempo. Aonde ela vai as pessoas já sabem para o que ela veio, e o que irá fazer, o jogo começa a ser projetado de várias maneiras diferentes, as pessoas começam a ver o jogo em tudo junto a ela, pois ela projeta o jogo onde vai, seja em camisetas, banners, em atitudes, em referências, em métodos, em competições oficiais ou não. A presença dessa pessoa é quase onipresente. Mas ele não é só um super-disseminador, também é um super-jogador e uma super-referência. Nada nesse jogador é falso, é tudo real e a paixão ao jogo encanta aos olhos de quem vê. Um jogador assim não necessariamente precisaria viver do jogo, mesmo que vivesse do jogo, o dinheiro para ele, seria um trunfo para promover ainda mais o jogo.
Não se sabe de um jogador dessa categoria no mundo, mas um desse, já seria uma arma e tanto para a sobrevivência e divulgação do jogo aqui no país, por exemplo. Esse jogador teria, caso esse jogo fosse uma religião/filosofia, atingido ao nirvana, ou, brincadeiras à parte, o “reversana”.

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

A "Obrigatoriedade" do Vencer



Nos últimos dias, semanas e meses eu tenho enfrentado um dilema quase inédito na minha vida, e ele consiste basicamente no porquê da escolha, uma vez que não há a vontade em si, ou o propósito tangível da ação. Eu comecei a jogar Reversi em 2004, offline em um celular antigo, parei depois de alguns meses e voltei só no final de 2006, já de modo online. Fui descobrindo o jogo, me encantando com suas nuances estratégicas, me deslumbrando com sua complexidade e prática, aprender e se tornar um master era o meu primeiro propósito ali estabelecido. Em 2009, já com bastante habilidade no jogo e, superado o primeiro propósito e ainda assim encantado com a dinâmica e plástica do jogo, resolvi criar um blog para assim, pode ensinar as coisas que eu aprendi aos demais, tanto no mundo online quanto presencial, esse foi meu segundo propósito, e nasceu o Othello Classic, que teve um papel muito positivo na minha vida; foi a passagem da infância para a idade adulta dentro do jogo, simbolizando, foi assim, metaforicamente que eu hoje entendo essa fase. Depois de várias postagens, que foram desde aquelas falando sobre estratégias básicas, às que falavam sobre competições ao redor do mundo, eu resolvi que eu mesmo poderia estar lá, em um desses campeonatos presenciais, dos quais até então só tinha um: O famigerado Campeonato Brasileiro de Othello, e foi assim que em 2011, eu me aventurei na minha primeira competição oficial, já que eu tinha ganhado um extraoficial organizado na nossa cidade, Franco da Rocha, no início de 2009, mas estar ali no oficial, era o início do meu terceiro propósito, participar e, quem sabe ganhar um campeonato brasileiro de Othello, e ganhei nesse mesmo ano, feito que me deixou muito feliz, muito feliz mesmo!


Passaram-se os anos, e eu pude participar de mais campeonatos brasileiros, onde ganhei quase todos, (na verdade só perdi um) mas continuei treinando mesmo assim. Até que em 2014 eu consegui comprar finalmente um tabuleiro oficial de Othello, o mesmo utilizado no campeonato mundial, esse meu era de uma linhagem antiga, quando a marca ainda era Tsukuda, hoje é a MegaHouse. E assim, tive a ideia e a coragem de começar a gravar vídeo aulas de Othello, que foi quando começo meu quarto propósito, e assim foi. Com o tempo, para ajudar a divulgar, criei alguns grupos no Facebook e no Whatsapp, onde a grande maioria foi se desmanchando aos poucos (a maioria das vezes eu deletei o grupo), posso chamar essa fase de o quinto propósito, e se estabeleceu de alguma forma até os dias atuais, onde agora, no ano de 2019, não me apareceu mais nenhum propósito, e eu preciso desses propósitos para me entregar a qualquer projeto de vida, sem eles, não tenho porque jogar, não tenho porque treinar, por exemplo.


Parece bobagem, mas uma coisa por enquanto, dentro da minha mente, do meu discernimento, ainda está ligada a outra, posso ser um bom entusiasta/jogador/professor desde que eu esteja me sentindo hábil a isso, mas uma vez onde eu não tenho mais estímulos externos, a vontade de jogar, treinar somem gradualmente. Claro, tenho consciência de que ir a um abrigo para menores abandonados, ou lar de idosos e levar meus tabuleiros para ensiná-los algo lúdico seria gratificante, e para isso nem sequer é necessário saber jogar estrategicamente de fato, basta saber as regas e ter vontade de ensinar. Mas o fato é, que como jogador, com a ambição competitiva, vontade de ganhar, esse propósito/fase em mim, já passou. Talvez os propósitos posteriores vieram como algo intrínseco, quanto mais eu divulgava e ensinava, mais eu ficava com vontade de jogar, treinar e competir, quanto mais eu jogava, treinava e competia, com mais vontade eu ficava de divulgar e ensinar. E agora? Qual o meu verdadeiro propósito em voltar a jogar?


Vou fazer um pequeno resumo agora, mas é importante saber. Até o início de 2018, eu tinha uma amiga lituana que jogava todo dia comigo de manhã, e quando eu estava livre das minhas obrigações, à tarde também. Era muito divertido jogar com ela; que tinha um nível bem inferior ao meu, mas que depois de jogar tanto comigo, acabou aprendendo bastante ao ponto de conseguir ganhar de mim às vezes, eu jogava com ela desde 2013, era minha amigona online, conversávamos de tudo, desde política mundial, lituana e brasileira, até futebol, passando por assuntos famosos no momento, que foi manchete tanto no país dela, quanto aqui no Brasil. Enfim, ela trabalhava fora da Lituânia, ela às vezes tinha que passar mais de um mês na Letônia (país do lado) na cidade de Riga, capital daquele país, mas sempre voltava animada como sempre. Às vezes ela viajava à lazer mesmo, me enviava até fotos dos países aonde ela ia, muito legal e, antes que alguém pense, sim, ela era uma pessoa real. Bom, dessa vez, ela simplesmente falou que iria se ausentar um pouco, mas sumiu. Nunca mais voltou desde março de 2018, no início achei que fosse mais uma das longas viagens dela, pois ela já chegou a passar oito meses trabalhando fora, mas nos enviávamos emails, já que nossa conversa habitual mesmo era no chat do site de jogos onde jogávamos, mas dessa vez nada. Nem responde os emails... Por saber de algumas coisas sobre ela, e por suspeitar de outras, tenho quase certeza de que infelizmente ela se foi... Ela não faria isso com um amigo, acho de verdade que ela se foi... Não tenho como ter certeza, mas meu coração diz isso. E o que isso tem a ver com minha falta de vontade de jogar?


A princípio o meu hábito de jogar online de manhã ou quando podia, continuou, mas foi diminuindo aos poucos, porque descobri que não tinha a mesma graça jogar com estranhos, o que me fez começar a só querer jogar com pessoas que eu conhecesse, todos brasileiros. Que era algo, ao menos diariamente, impraticável, pois cada um tem a sua rotina. A minha amiga não só me faz falta como o ser humano magnífico que era, mas também como a pessoa, depois da minha ex, que mais me incentivava a jogar. Não que ela falasse diretamente, mas não precisava. Ela, querendo ou não, era meu treino também, e a pessoa que me fazia juntar risada com Reversi, era um estímulo para mim, que se foi. Ainda consegui participar de bastante torneios em 2018, onde ganhei todos, incluso o brasileiro, mas ao meu ver, fadado a enjoar com o tempo. Em 2019 parece que o efeito chegou, já fazia meses que eu não jogava com a mesma frequência de antes, e foi diminuindo ainda mais, somando-se problemas pessoais também. Em maio de 2019 eu parei de vez de jogar, só jogava comigo mesmo ou tentava resolver algum problema ou outro na Internet. Meu nível tem diminuído drasticamente, mesmo assim ainda consegui ganhar um torneio online, e perdi um presencial, mas joguei bem até, mas longe do que eu era. A pergunta é: Qual será o meu sexto propósito?


Por hora não tem, o que me faz ficar totalmente sem vontade de jogar ou evoluir. Tenho algumas ideias, mas são só ideias por enquanto. Dar aulas online poderia ser o sexto, mas é só uma extensão do quarto propósito. O que me sobra é só o resquício de “campeão” onde tenho a ilusão da obrigação de ganhar, o que é um fardo que me nego a carregar, pois a minha habilidade no jogo sempre esteve ligada à vontades, desejos e propósitos, sem isso, sou apenas um simples jogador. Tenho outras perspectivas de vida, não sei se consigo dedicar tanto tempo ao Reversi, pois sem propósito, perde um pouco do sentido. Mas de uma coisa eu tenho certeza, adoro jogar Reversi, e esse sempre será o meu jogo favorito.